T R A N S I ÇÃO

T R A N S I ÇÃO
Uitonius, um amigo de Júpiter.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O desencarne de Fúlvia -Post 138

Peônia me procurou. Mentalmente me chamava à Câmera de Renovação.
Eu não tinha a menor ideia do que fosse uma Câmera de Renovação e perguntei à um tripulante como deveria chegar à ela. Explicado, dirigi-me ao local. 
Era um grande salão, todo de paredes de mármores brancos, móveis brancos que se compunha de mesas, cadeiras e estofados. Vários amigos lá estavam e quando entrei, os olhares se voltaram para mim.
Eu nada entendia. Olhei para Fúlvia que sentada confortavelmente em um delicado sofá, me sorriu. Estendeu-me suas mãos e disse-me, suavemente que estava deixando aquele corpo; a transformação que nós, aqui da Terra, tanto tememos por não compreendê-la,  a dita morte.. 

-Você está me dizendo que irá desencarnar?
-Deixo esta matéria que tanto me serviu e, mantendo-a em apenas um espectro que minha vontade determinar, estarei em estado errante. ou seja desencarnada e preparando-me para nova encarnação. E tu sabes aonde se dará!
Ela estava feliz e me passou, estranhamente aquela felicidade. Pela primeira vez experimentava uma alegria ao ver alguém morrer, ou melhor, desencarnar.
Quiz falar alguma coisa que a confortasse, mas confortá-la do que?
Ficamos, ali, juntos por alguns minutos. Ela, então me disse estar com muito sono. Os amigos se reuniram em sua volta e ela sorriu, apenas dizendo: -Eu os amo e continuarei amando.
-Uitonius chegou, ainda há tempo de que os seus e os olhos delas se cruzassem na despedida.
Fechou, suavemente os olhos e percebi que três entidades desencarnadas ajudaram-na a recompor-se. Eram familiares que a esperavam manifestando o gesto do eterno amor. A cumplicidade dos sentimentos que o tempo custa a apagar. Nem todos os que estavam no local viram aquela cena, pois a matéria inibe, ainda para alguns, tais possibilidades. Eu, fora do meu corpo físico, Uitonius e mais alguns, tivemos esta possibilidade.Víamos seu perispírito.
Ela olhou para o ambiente, como se buscasse reconhecê-lo, semi-atordoada que estava, mas foi se recompondo e olhando para mim disse:- Viu como é simples, meu querido Gui?
Soube, mais tarde que a vestimenta provisória que lhe servira (corpo), fora incinerada, sem rituais ou acompanhamentos sentimentais. Afinal, Fúlvia vivia a real vida.
Sem mais delongas, despediu-se de todos com lindas palavras e foi, acompanhada por sua parentela e outros companheiros para Europa (satélite natural de Júpiter) para estudos e providências de sua próxima encarnação na África.

Só, por alguns instantes, senti vontade de chorar, ou melhor, senti a emoção espiritual que faz com que as lágrimas fluam pelo corpo físico. Inconscientemente à evocava e, então meu Espírito recebeu a resposta à minha tristeza:- Não chore, meu amado Gui; ainda, um dia estaremos lado a lado.

Aproveitei o resto da noite e fui assistir à uma ópera, mas, meus pensamentos estavam longe.
Pensei o tanto que faltava aos habitantes da Terra conviverem daquelas formas.

Uitonius me procurou. Sentamo-nos em uma das praças de lazer. Ficamos calados por longo período e ele pegou suavemente a minha mão espectral e a beijou. Eu, em resposta, beijei a sua.

Disse um filósofo ou pensador, não me lembro quem: "Como é bom ser bom!"

                                                           



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