T R A N S I ÇÃO

T R A N S I ÇÃO
Uitonius, um amigo de Júpiter.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Os tempos são chegados - ESTUDO - off

Os Tempos são Chegados

Revista Espírita, outubro de 1866
Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem-nos de todas as partes, onde os grandes acontecimentos vão se cumprir para a regeneração da Humanidade. Em que sentido é preciso entender estas palavras proféticas? Para os incrédulos, elas não têm nenhuma importância; aos seus olhos, não é senão a expressão de uma crença pueril sem fundamento; para a maioria dos crentes, ela têm alguma coisa de mística e de sobrenatural que Ihs parece ser precursoras do transtorno das leis da Natureza. Estas duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira naquilo que implica a negação da Providência, e que os fatos cumpridos provam a verdade dessas palavras; a segunda, naquilo que estas não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas seu cumprimento. Procuremos, pois, o sentido mais racional.
Tudo é harmonia na obra da criação, tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores coisas nem nas maiores; devemos, pois, de inicio descartar toda a idéia de capricho irreconciliável com a sabedoria divina; em segundo lugar, se nossa época está marcada para o cumprimento de certas coisas, é que elas têm sua razão de ser na marcha geral do conjunto.
Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride fisicamente pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente pela depuração dos Espíritos, encarnados e desencarnados, que o povoam. Estes dois progressos se seguem e caminham paralelamente, porque a perfeição da habitação está em relação com a do habitante. Fisicamente, o globo sofreu transformações, constatadas pela ciência, e que, sucessivamente, o tomaram habitável para seres cada vez mais aperfeiçoados; moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que a melhora do globo se opera, sob o império das forças materiais, os homens nisso concorrem pelos esforços de sua inteligência; eles saneiam as regiões insalubres, tornam as comunicações mais fáceis e a terra mais produtiva.
Esse duplo progresso se realiza de duas maneiras: uma lenta, gradual e insensível; a outra por mudanças mais bruscas, em cada uma das quais se opera um movimento ascensional mais rápido que marca, por caracteres marcantes, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados nos detalhes ao livre arbítrio dos homens, são, de alguma sorte, fatais em seu conjunto, porque estão submetidos à leis, como aqueles que se operam na germinação, crescimento e maturidade das plantas, tendo em vista que o objetivo da Humanidade é o progresso, não obstante a marcha retardatária de algumas individualidades; por isso, o movimento progressivo é algumas vezes parcial, quer dizer, limitado a uma raça ou a uma nação, outras vezes geral. O progresso da Humanidade se efetua, pois, em virtude de uma lei; ora, como todas as leis da Natureza são a obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é o efeito dessas leis é o resultado da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Portanto, quando a Humanidade está amadurecida para transpor um degrau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus são chegados, como se pode dizer também que em tal época chegaram pela maturidade os frutos e a colheita.
Do fato de que o movimento progressivo da Humanidade é inevitável, porque está na Natureza, não se segue que Deus a isto seja indiferente, e que, depois de ter estabelecido as leis, tenha entrado na inação, deixando as coisas irem inteiramente sozinhas. Suas leis são eternas e imutáveis, sem dúvida, mas porque sua própria vontade é eterna e constante, e que seu pensamento anima todas as coisas sem interrupção; seu pensamento, que penetra tudo, esforça inteligente e permanente que mantém tudo na harmonia; que esse pensamento cessasse um único instante de agir, e o Universo seria como um relógio sem pêndulo regulador. Deus vela, pois, incessantemente pela execução de suas leis, e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros encarregados dos detalhes, segundo as atribuições que tocam ao seu grau de adiantamento.
O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo incomensurável conduzido por um número não menos incomensurável de inteligências, um imenso governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Senhor, cuja vontade única mantém por toda a parte a unidade. Sob o domínio dessa vasta força reguladora tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita, o que nos parece perturbações são os movimentos parciais e isolados que não nos parecem irregulares senão porque nossa visão é circunscrita. Se pudéssemos abarcar-lhe o conjunto, veríamos que essas irregularidades não são senão aparentes e que se harmonizam no todo.
A previsão dos movimentos progressivos da Humanidade nada tem de surpreendente entre os seres desmaterializados que vêem o objetivo para onde tendem todas as coisas, dos quais alguns possuem o pensamento direto de Deus, e que julgam, nos movimentos parciais, o tempo pelo qual poderá se cumprir um movimento geral, como se julga antes o tempo que é preciso a uma árvore, para dar frutos, como os astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico pelo tempo que é preciso a um astro para cumprir sua revolução.
Mas todos aqueles que anunciam esses fenômenos, os autores de almanaques que predizem os eclipses e as marés, certamente eles mesmos não estão no estado de fazer os cálculos necessários não são senão os ecos; assim ocorre com os Espíritos secundários cuia visão é limitada, e que não fazem senão repetir o que aprouve aos Espíritos superiores Ihs revelar.
A Humanidade realizou, até este dia. incontestáveis progressos; os homens, por sua inteligência, chegaram a resultados que jamais tinham atingido com relação às ciências, às artes e ao bem-estar material; resta-lhes, ainda, um imenso progresso a realizar: é o de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o seu bem-estar moral. Não o podiam nem com suas crenças, nem com suas instituições antiquadas, restos de uma outra época, boas em uma certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, tendo dado o que elas comportam, seriam um atraso hoje. Tal uma criança é estimulada por móveis, impotentes quando vem a idade madura. Não é mais somente o desenvolvimento da inteligência que é necessário aos homens, é a elevação do sentimento, e para isto é preciso destruir tudo o que poderia superexcitar neles o egoísmo e o orgulho.
Tal é o período onde vão entrar doravante, e que marcará as fases principais da Humanidade. Esta fase que se elabora neste momento, é o complemento necessário do estado precedente, como a idade viril é o complemento da juventude; ela podia, pois, ser prevista e predita antecipadamente, e é por isto que se diz que os tempos marcados por Deus são chegados.
Neste tempo, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a uma região, a um povo, a uma raça; é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a se estabelecer, e os homens que lhe são os mais opostos nela trabalham com o seu desconhecimento; a geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, achar-se-á animada de idéias e de sentimentos diferentes da geração presente que se vai a passos de gigante. O velho mundo estará morto, e viverá na história, como hoje os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
De resto, cada um sabe que a ordem das coisas atuais deixa a desejar; depois de ver, de alguma sorte, esgotar o bem-estar material, que é o produto da inteligência, chega-se a compreender que o complemento desse bem-estar não pode estar senão no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, sem, no entanto, poder ainda defini-lo claramente: é o efeito do trabalho intimo que se opera para a regeneração; têm-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor.
Mas uma mudança tão radical, quanto a que se elabora, não pode se realizar sem comoção; a luta inevitável entre as idéias, e quem diz luta, diz alternativa de sucesso e de revés; no entanto, como as idéias novas são as do progresso, e que o progresso está nas leis da Natureza, elas não podem deixar de se impor sobre as idéias retrógradas. Forçosamente, desse conflito, surgirão as perturbações temporárias, até que o terreno seja desobstruído dos obstáculos que se opõem ao estabelecimento de um novo edifício social. Da luta das idéias é que surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não cataclismos, ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram a conseqüência do estado de formação da Terra; hoje, não são mais as entranhas do globo que se agitam, são as da Humanidade.
A Humanidade é um ser coletivo em que se operam as mesmas revoluções morais que em cada ser individual, com esta diferença de que umas se cumprem de ano em ano, e as outras de século em século. Que sejam acompanhadas, em suas evoluções através do tempo, e ver-se-á a vida das diversas raças marcadas por períodos que dão a cada época uma fisionomia particular.
Ao lado dos movimentos parciais, há um movimento geral que dá o impulso à Humanidade inteira; mas o progresso de cada parte do conjunto é relativo ao seu grau de adiantamento. Tal será uma família composta de vários filhos dos quais o mais jovem está no berço e o primogênito com a idade de dez anos, por exemplo. Em dez anos, o primogênito terá vinte anos e será um homem; o mais jovem terá dez anos e, embora mais avançado, será ainda uma criança; mas, a seu turno, tornar-se-á um homem. Assim é com as diferentes frações da Humanidade; os mais atrasados avançam, mas não saberão, de um pulo, alcançar o nível dos mais avançados.
A Humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais largas, mais elevadas; compreende o vazio das idéias das quais foi embalada, a insuficiência de suas instituições para a sua felicidade; ela não encontra mais, no estado das coisas, as satisfações legitimas para as quais se sente chamada; por isso ela sacode coeiros, e se lança impelida por uma força irresistível, para as margens desconhecidas, para descoberta de novos horizontes menos limitados. E é no momento em que ela se encontra muito pobremente em sua esfera material, onde a vida intelectual transborda, onde o sentimento da espiritualidade desabrocha, quantos homens, pretensos filósofos, esperam encher o vazio por doutrinas do niilismo e do materialismo! Estranha aberração! Esses mesmos homens que pretendem impeli-la para a frente, se esforçam por circunscrevê-la no circulo estreito da matéria; de onde ela aspira sair; e lhe fecham o aspecto da vida infinita, e lhe dizem, em lhe mostrando o túmulo: Nec plus ultra!
A marcha progressiva da Humanidade se opera de duas maneiras, como o dissemos: uma gradual, lenta, insensível, se se consideram as épocas próximas, que não se traduz por melhorias sucessivas nos costumes, nas leis, nos usos, e não se percebe que, com o tempo, como as mudanças que as correntes d'água trazem à superfície do globo; o outro, por um movimento relativamente brusco, rápido, semelhante ao de uma torrente rompendo seus diques, que lhe faz transpor em alguns anos o espaço que ela teria séculos para percorrer. E então um cataclismo moral que engole, em alguns instantes, as instituições do passado, e ao qual sucede uma nova ordem de coisas, que se assenta pouco a pouco, à medida que a calma se restabelece, e se torna definitiva.
Àquele que vive bastante tempo para abarcar as duas vertentes da nova fase, parece que um mundo novo tenha saído das ruínas do antigo; o caráter, os costumes, os usos, tudo está mudado; é que, com efeito, homens novos, ou melhor, regenerados, surgiram; as idéias trazidas pela geração que se extingue de o lugar às idéias novas na geração que se educa.
É a um desses períodos de transformação, ou, querendo-se, de crescimento moral, que chegou a Humanidade. Da adolescência ela passa à idade viril; o passado não pode mais bastar para suas novas aspirações, suas novas necessidades; não pode ser mais conduzida pelos mesmos meios; não se paga mais com ilusões e prestígios: é preciso, à sua razão, amadurecer os alimentos mais substanciais. O presente é muito efêmero; ela sente que seu destino é mais vasto e que a vida corpórea é muito restrita para encerrá-la toda inteira; por isso ela mergulha seus olhares no passado e no futuro, a fim de ali descobrir o mistério de sua existência e ali haurir uma consoladora segurança.
Quem meditou sobre o Espiritismo e suas conseqüências, e não o circunscreveu à produção de alguns fenômenos, compreende que ele abre à Humanidade um caminho novo, e lhe desenrola os horizontes do infinito; iniciando-o nos mistérios do mundo invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual como no estado corpóreo. O homem não caminha mais às cegas: ele sabe de onde vem, para onde vai e porque está sobre a Terra. O futuro se lhe mostra em sua realidade, livre dos preconceitos da ignorância e da superstição; não é mais uma vaga esperança: é uma verdade palpável, tão certa para ele quanto a sucessão do dia e da noite. Sabe que o seu ser não está limitado a alguns instantes de uma existência cuja duração está submetida ao capricho do acaso; que a vida espiritual não é interrompida pela morte; que ele já viveu, reviverá ainda, e que de tudo aquilo que adquire em perfeição pelo trabalho, nada está perdido; encontra em suas existências anteriores a razão daquilo que é hoje, e daquilo que se faz hoje, pode concluir o que será um dia.
Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais à obra geral da civilização são limitados à vida presente, que nada se foi e que nada será, que faz ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam melhor governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Uma vez que disso não deve retirar nenhum fruto, esse progresso não está perdido para ele? De que lhe serve trabalhar por aqueles que virão depois dele, se não deve jamais conhecê-los, e se são seres novos que pouco depois reentrarão, eles mesmos, no nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo, forçosamente diminuiria às mesquinhas proporções do momento e da personalidade
Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do ser espiritual ! que orça, que coragem não retira dali contra as vicissitudes da vida material! O que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador que esta lei segundo à qual a vida espiritual e a vida corpórea não são senão dois modos de existência que se alternam para a realização do progresso o que de mais justo e de mais consolador do que a idéia dos mesmos seres progredindo sem cessar, primeiro através das gerações de um mesmo mundo, e em seguida de mundo em mundo, até a perfeição sem solução de continuidade! Todas as ações têm então um objetivo porque, trabalhando por todos, trabalha-se para si, e reciprocamente de sorte que nem o progresso individual nem o progresso geral jamais são estéreis; aproveita às gerações e às individualidades futuras, que não são outras senão as gerações e as individualidades passadas chegadas a um mais alto grau de adiantamento.
A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espirito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existência. Salvo a veste exterior, há pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, concorrendo num e no outro ao mesmo objetivo, por meios apropriados à sua situação.
Dessa lei decorre a da perpetuidade das relações entre os seres a morte não os separa, e não põe fim às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Dai a solidariedade de todos para cada um, e de cada um para todos; dai também a fraternidade. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e em seus costumes porque, então, a eles sujeitarão suas leis e sua instituições. Estará ai um dos principais resultados da transformação que ali se opera.

Mas como conciliar os deveres da solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte torna para sempre os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que ligam todos os seres, o Espiritismo funda esse duplo principio sobre as próprias leis da Natureza; disso não faz só um dever, mas uma 
necessidade. Pela da pluralidade das existências, o homem se prende ao que se fez e ao que se fará, aos homens do passado e aos do futuro; ele não pode mais dizer que não tem mais nada de comum com aqueles que morrem, uma vez que uns e os outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para subirem juntos a escala do progresso e se prestarem um mútuo apoio. A fraternidade não está mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reuniu durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espirito, universal como a Humanidade, que constitui uma grande família da qual todos os membros são solidários uns com os outros, qualquer que seja a época na qual viveram.

Tais são as idéias que ressaltam do Espiritismo, e que suscitará, entre todos os homens, quando estiver universalmente difundido, compreendido, ensinado. Com o Espiritismo a fraternidade, sinônimo da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma vã palavra; ela tem a sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nascem o da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de povo a povo, de raça a raça; desses dois sentimentos bem compreendidos sairão, forçosamente, as instituições mais proveitosas ao bem-estar de todos.
A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida e efetiva se não estiver apoiada sobre uma base inabalável; essa base é a fé; não a fé de tais ou tais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e se lançam pedras, porque, anatematizando-se, entretêm o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar Deus, a a/ma, o futuro, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não dele, se olharão como filhos de um mesmo pai e se estenderão a mão. É esta fé que o Espiritismo dá, e que será doravante o pivô sobre o qual se moverá o gênero humano, quaisquer que sejam suas maneiras de adorá-lo e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas da qual não tem que se ocupar. Só dessa fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque só ela dá uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é aquele que dá a força; o dever, um código humano imposto pelo constrangimento. Sem ela, o que é o homem? um pouco de matéria que se desfaz, um ser efêmero que não faz senso passar; o próprio gênio o uma centelha que brilha um instante para se apagar para sempre; certamente, não há ali de que se isentar muito aos seus próprios olhos. Com um tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? qual é o objetivo do progresso? Sozinha, esta fé faz sentir ao homem sua dignidade pela perpetuidade e o progresso do seu ser. Não num futuro mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido; seu pensamento se eleva acima da Terra; sente-se crescer pensando que tem seu papel no Universo e que esse Universo é seu domínio que poderá um dia percorrer, e que a morte dele não fará uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.
O progresso intelectual realizado até este dia. nas mas vastas proporções, é um grande passo, e marca a primeira fase da Humanidade, mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; é por isso que os aplica ao aperfeiçoamento dos meios de prejudicar aos outros e de se entredestruirem. Só o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio às más paixões; só ele pode fazer reinar entre eles a concórdia, a paz, a fraternidade. Será ele que abaixará as barreiras dos povos, que fará tombar os preconceitos de casta, e calar os antagonismos de seitas, ensinando aos homens a se olharem como irmãos, chamados para se entre ajudarem e não viverem às expensas uns dos outros. Será ainda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença, estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas à discussão e, por isto mesmo, aceitas por todos. A unidade de crença será o laço mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, quebrado em todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos que é preciso fugir, combater, exterminar, em lugar de irmãos que é preciso amar.
Um tal estado de coisas supõe uma mudança radical nos sentimentos das massas, um progresso geral que não poderia se realizar senão saindo do circulo das idéias estreitas e terra-a-terra que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de elite procuraram conduzir a Humanidade nesse caminho; mas a Humanidade, embora muito jovem, permaneceu surda, e seus ensinos foram como a boa semente caída sobre a pedra. Hoje, ela está madura para levar seus olhares mais alto do que ela não o fez, para assimilar as idéias mais amplas e compreender o que não tinha compreendido. A geração que desaparece levará com ela seus preconceitos e seus erros; a geração que se levanta, temperada numa fonte mais depurada, imbuída de idéias mais sadias, imprimirá ao mundo o movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve marcar a nova fase da Humanidade. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, pelas idéias grandes e generosas que vêm à luz e que começam a encontrar ecos. Assim é que se vê se fundar uma multidão de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se impregnam cada dia de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a se olhar como os membros de uma grande família; pela uniformidade e a facilidade dos meios de transação, suprimem as barreiras que os dividiam de todas as partes do mundo, se reúnem em comícios universais pelos torneios pacíficos da inteligência. Mas falta a essas reformas uma base para se desenvolver, se completar e se consolidar, uma predisposição moral mais geral para frutificar e se fazer aceitas pelas massas. Este não é menos um sinal característico do tempo, o prelúdio daquilo que se realizará sobre uma mais vasta escala, à medida que o terreno se tornar mais propicio.
Um sinal não menos característico do período em que entramos, é a reação evidente que se opera no sentido das idéias espiritualistas, uma repulsa instintiva se manifesta contra as idéias materialistas, cujos representantes se tornam menos numerosos ou menos absolutos. O espirito de incredulidade que tinha se apoderado das massas, ignorantes ou esclarecidas, e lhe tinha feito rejeitar, com a forma, o próprio fundo de toda crença, parece Ter tido um sono ao sair do qual experimenta a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, onde o vazio se fez, procura-se alguma coisa, um ponto de apoio, uma esperança.
Neste grande movimento regenerador, o Espiritismo tem um papel considerável, não o Espiritismo ridículo inventado por uma critica zombeteira, mas o Espiritismo filosófico, tal como o compreende quem se dá ao trabalho de procurar a amêndoa sob a casca. Pelas provas que ele traz das verdades fundamentais, ele enche o vazio que a incredulidade faz nas idéias e nas crenças; pela certeza que dá de um futuro conforme a justiça de Deus, e que a mais severa razão pode admitir, tempera as amarguras da vida e previne os funestos efeitos do desespero. Fazendo conhecer novas leis da Natureza, dá a chave de fenômenos incompreendidos e de problemas insolúveis até este dia. e mata ao mesmo tempo a incredulidade e a superstição. Para ele, não há nem sobrenatural nem maravilhoso; tudo se cumpre no mundo em virtude de leis imutáveis. Longe de substituir um exclusivismo por um outro, se coloca como campeão absoluto da liberdade de consciência, combate o fanatismo sob todas as formas, e o corta em sua raiz proclamando a salvação para todos os homens de bem, e a possibilidade, para os mais imperfeitos, de chegar, pelos seus esforços, a expiação e a reparação, à perfeição, única que conduz à suprema felicidade. Em lugar de desencorajar o fraco, encoraja-o mostrando-lhe o objetivo que pode alcançar.
Ele não diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas com o Cristo: Fora da caridade não há salvação, principio de união, de tolerância, que unirá os homens num comum sentimento de fraternidade, em lugar de dividi-los em seitas inimigas. Por este outro principio: Não há fé inabalável senão aquela que pode olhara razão face a face em todas as épocas da Humanidade, destrói o império da fé cega que anula a razão, da obediência passiva que embrutece; ele emancipa a inteligência do homem e levanta seu moral.
Consequentemente, com ele não se impõe; ele diz o que é, o que quer, o que dá, e espera que se venha a ele livremente, voluntariamente; quer ser aceito pela razão e não pela força. Ele respeita todas as crenças sinceras, e não combate senão a incredulidade, o egoísmo, o orgulho e a hipocrisia, que são as chagas da sociedade, e os mais sérios obstáculos ao progresso moral; mas não lança anátema a ninguém, nem mesmo aos seus inimigos, porque está convencido de que o caminho do bem está aberto aos mais imperfeitos, e que, cedo ou tarde, nele entrarão.
Se se supõe a maioria dos homens imbuídos desse sentimento, podem-se facilmente se figurar as modificações que trarão nas relações sociais: caridade, fraternidade, benevolência para todos, tolerância para todas as crenças, tal será a sua divisa. É o objetivo para o qual tende, evidentemente, a Humanidade, o objeto de suas aspirações, de seus desejos, sem que ela se dê muita conta dos meios de realizá-los; ela ensaia, tateia, mas é detida por resistências ativas ou pela força da inércia dos preconceitos, das crenças estacionárias e refratárias ao progresso. São essas resistências que é preciso vencer, e isto será obra da nova geração; seguindo-se o curso atual das coisas, reconhece-se que tudo parece predestinado a lhe abrirá caminho; terá para ele a dupla força do número e das idéias, e além disto a experiência do passado.
A nova geração caminhará, pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tiver chegado. O Espiritismo caminhando no mesmo objetivo, e realizando seus fins , encontrar-se-ão sob o mesmo terreno , não como concorrentes, mas como auxiliares se prestando um mútuo apoio. Os homens progressistas encontrarão nas idéias espiritas uma possante alavanca, e o Espiritismo encontrará nos homens novos espíritos dispostos a acolhê-lo. Neste estado de coisas, que poderão fazer aqueles que quiserem se colocar como obstáculo?
Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a maturidade da Humanidade que faz dessa renovação uma necessidade. Por seu poder moralizador, por suas tendências progressivas, pela amplitude de seus objetivos, pela generalidade das questões que abarca, o Espiritismo está, mais do que qualquer outra doutrina, apto a secundar o movimento regenerador; é por isto que é dele contemporâneo; veio no momento em que poderia ser útil, porque para ele também os tempos estão chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos insuperáveis; teria inevitavelmente sucumbido, porque os homens, satisfeitos com o que tinham, não sentiam a necessidade daquilo que ele traz. Hoje, nascido com o movimento das idéias que agitam, encontra o terreno preparado para recebê-lo; os espíritos, as da dúvida e da incerteza, assustados com o abismo que se cava diante deles, o acolhem como uma ancora de salvação e uma suprema consolação.
Dizendo que a Humanidade está madura para a regeneração, isto não quer dizer que todos os indivíduos o estão no mesmo grau, mas muitos têm, por intuição, o germe das idéias novas que as circunstancias farão eclodir; então, mostrar-se-ão mais avançados do que se supunha, e seguirão com diligência o impulso da maioria.
Há deles, no entanto, que são essencialmente refratários, mesmo entre os mais inteligentes, e que, seguramente, não se juntarão jamais, pelo menos nesta existência, uns de boa-fé, por convicção; os outros por interesse. Aqueles cujos interesses materiais estão ligados ao estado presente das coisas, e que não estão bastante avançados para disso fazer abnegação, que o bem geral toca menos que o de sua pessoa, não podem ver sem apreensão o menor movimento reformador; a verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade está inteiramente naquilo que não Ihs cause nenhuma perturbação; todas as idéias progressistas são, aos seus olhos, idéias subversivas, é porque Ihs devotam um ódio implacável e Ihs fazem uma guerra obstinada. Muito inteligentes por não verem no Espiritismo um auxiliar dessas idéias e os elementos da transformação que temem porque não se sentem à sua altura, se esforçam por abatê-lo; se o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Já dissemos em outro lugar: "Quanto mais uma idéia é grande, mais encontra ela adversários, e pode se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais é objeto."
O número dos retardatários é ainda grande, sem dúvida, mas o que podem contra a onda que cresce, senão nela lançar algumas pedras? Esta onda é a regeneração que se ergue, ao passo que eles desaparecem com a geração que se vai cada dia a grandes passos. Até lá defenderão o terreno palmo a palmo; há, pois, uma luta inevitável, mas uma luta desigual, porque é a do passado decrépito que cai em farrapos, contra o futuro juvenil; da estagnação contra o progresso; da criatura contra a vontade de Deus, porque os tempos marcados para ele estão chegados.
ALLAN KARDEC 

FRATERNIDADES post 167

A idéia de fraternidade estabelece que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De uma certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas.
A fraternidade é expressa no primeiro artigo da Declaração universal dos direitos do homem quando ela afirma que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
A palavra é eventualmente confundida com a expressão caridade e solidariedade, embora elas tenham significados radicalmente diferentes. A fraternidade expressa a dignidade de todos os homens, considerados iguais e assegura-lhes plenos direitos (sociais, políticos e individuais).
Há alusões históricas de que a Maçonaria participou efetivamente da revolução Francesa, Malapert, orador do Supremo Conselho da França, escreveu em 1874, na revista La Chaine d´Union, " Para a prática da vida, procuramos uma formula capaz de reunir todas as condições desejáveis:“Liberté, Egalité, Fraternité” (“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”). é a que melhor corresponde às aspirações dos maçons". Que foram aceitas por todas as Lojas e os grandes homens da Revolução, maçons em grande parte, adotaram-na para divisa da República Francesa.

Auto-seleção - o Princípio

As associações em segredo começaram, nos primórdios, com a consangüinidade, esta determinou os primeiros grupos sociais; os clãs de parentescos aumentaram por associação. Os casamentos inter tribais foram o próximo passo para a amplificação dos grupos, e a tribo complexa resultante foi o primeiro verdadeiro corpo político. O próximo avanço, no desenvolvimento social, foi a evolução dos cultos religiosos e dos clubes políticos. Estes, inicialmente, surgiram como sociedades secretas, e originalmente, eram integralmente religiosos; posteriormente, eles tornaram-se reguladores. A princípio, eles eram clubes de homens; mais tarde, grupos femininos apareceram. E, em breve, eles dividiram-se em duas classes: a político-social e a místico-religiosa.


Motivos para o secretismo

Havia muitas razões para que essas primeiras sociedades fossem secretas, tais como:
  • A finalidade de praticarem ritos religiosos minoritários.
  • O propósito de preservar valiosos segredos do “espírito” ou do comércio.
  • O desfrute de algum talismã ou magia especial.
O fato em si, de serem secretas essas sociedades, conferia a todos os seus membros o poder do mistério sobre o resto da tribo. Os iniciados eram a aristocracia social da sua época. Depois da iniciação, os meninos caçavam com os homens; enquanto antes eles colhiam plantas com as mulheres. E era a humilhação suprema, uma desgraça tribal, fracassar nas provas da puberdade e, assim, ser obrigado a permanecer fora da morada dos homens, ficando com as mulheres e as crianças, e ser considerado afeminado. Além disso, aos não iniciados não era permitido casar.

Juramento e rituais de iniciação

Todas as associações secretas impunham um juramento, o guardar do silêncio, e ensinavam a guardar os segredos. Essas ordens impressionavam e controlavam as multidões; e também atuavam como sociedades de vigilância, praticando, assim, a lei do linchamento. Elas foram os primeiros espiões, quando as tribos estavam em guerra, e a primeira polícia secreta, durante os tempos de paz. E, melhor ainda, mantinham os reis inescrupulosos em estado de insegurança. Para contrabalançar, os reis criaram a sua própria milícia secreta.

Algumas sociedades secretas e semi-secretas.

  • Illuminati - Sociedade secreta fundada para combater a tirania. Influiu de modo decisivo nas revoluções francesa e russa. [carece de fontes] A maçonaria, para sobreviver no pós revolução francesa, obrigou-se a adotar seus princípios iluministas. [carece de fontes]
  • S.S.C - Sociedade secreta usada em algumas situações por cristãos que de certo modo dariam suas vidas para que a Igreja triunfasse. Atualmente se envolveram em questões políticas e sociais e não ganhou o apoio do Vaticano. A questão política abordada aqui se diz respeito à eleição francesa apoiando a candidata Ségolène Royal.
  • Ku Klux Klan - organização que apoiava e fomentava o racismo, o apartheid e a abolição dos direitos da população negra, utilizando métodos pouco ortodoxos para dispersar protestos de direitos humanos.
  • Skull and Bones - A Skull and Bones é uma sociedade secreta estudantil dos Estados Unidos da América, fundada em 1832. Foi introduzida na Universidade de Yale por William Huntington Russell e Alphonso Taft em 1833.
  • Os Ренегатов солнце(renegados do sol) - é um grupo secreto Russo que reuniu jovens do mundo todo pela internet para lançar mensagens subliminares na rede de cada pais, eles querem o socialismo de volta e se inspiraram no Illuminates, eles querem que o socialismo domine o mundo.
  • Além dessas, menos conhecidas do âmbito mundial, temos a Maçonaria, Fraternidades esotéricas, Fraternidade Espírita, Fraternidades que praticam as magias (brancas e negras) e as religiosas.

 - Resumindo:Todo agrupamento de homens  que se reúnem com objetivos afins, sejam bons ou maus e mantém ideais comuns pode ser considerado uma Fraternidade. O termo que origina a Fraternidade (irmãos) perde o sentido na maioria das vezes pela vulgarização com que foi tomada.

Dos Templários aos Pedreiros Livres (Maçonaria), dos Cristãos às Religiões que tem o Evangelho de Jesus como pilar, dos alquimistas aos Grupos esotéricos, do racismo e do preconceito ao nazismo, fascismo, KKK, SSC, Inquisitores modernos (Congregação para a Doutrina da Fé), etc 

Não há uma divisão de bem e de mal, somente, pois os equivocados são maioria e cada qual se prende aos conceitos oferecidos e barganhados, frutos dos interesses, do radicalismo, das utopias, do egoismo e do fanatismo.

A raça humana, já em tempo, transita para reformas de conceitos e veremos a verdade se impor, pelo esclarecimento e pela razão.
Será, então, instituída a verdadeira Fraternidade que já desce dos céus, trazidas pelos Espíritos Superiores aos homens de bem.
A Fraternidade Universal da Evolução e das Leis Naturais. A Cepa da Videira.


  

sábado, 29 de outubro de 2011

Manuel Maria Barbosa du Bocage - Homenagem - off



Nascido em Setúbal às três horas da tarde de 15 de Setembro de 1765, falecido em Lisboa na manhã de 21 de Dezembro de 1805, era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de foraouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.

Monumento de Bocage em Setúbal
Teve cinco irmãos. O pai do poeta, José Luís Soares de Barbosa, nasceu em Setúbal, em 1728. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi juiz de fora em Castanheira e Povos, cargo que exercia durante o Sismo de Lisboa de 1755, que arrasou aquelas povoações.
Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja. Acusado de ter desviado a décima enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar, visto ser próximo de pessoas que foram vítimas de Pombal, o pai de Bocage foi preso para o Limoeiro em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações. Com a morte do rei D. José I, em 1777, dá-se a "viradeira", que valeu a liberdade ao pai do poeta, que voltou para Setúbal, onde foi advogado.
A sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Anne-Marie Le Page du Bocage, tradutora do "Paraíso" de Milton, imitadora da "Morte de Abel", de Gessner, e autora da tragédia "As Amazonas" e do poema épico em dez cantos "A Columbiada", que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é duvidosa e discutível.

Monumento de Bocage em Setúbal (estátua)
A sua infância foi infeliz. O pai foi preso , quando ele tinha seis anos e permaneceu na cadeia seis anos. A sua mãe faleceu quando tinha dez anos. Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781 e permaneceu no Exército até 15 de Setembro de 1783. Nessa data, foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha. No final do curso desertou, mas, ainda assim, surge nomeado guarda-marinha por D. Maria I.
Nessa altura, já a sua fama de poeta e versejador corria por Lisboa.
Em 14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que chegou ao Rio de Janeiro em finais de Junho.
Na cidade, viveu na actual Rua Teófilo Otoni, e diz o "Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro" de A. Campos - Da Costa e Silva, pg 48, que "gostou tanto da cidade que, pretendendo permanecer definitivamente, dedicou ao vice-rei algumas poesias-canção cheias de bajulações, visando atingir seus objectivos. Sendo porém o vice-rei avesso a elogios,e admoestado com algumas rimas de baixo calão, que originaram a famosa frase: "quem tem c... tem medo, e eu também posso errar", fê-lo prosseguir viagem para as Índias". Fez escala na Ilha de Moçambique (início de Setembro) e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1786. Em Pangim, frequentou de novo estudos regulares de oficial de marinha. Foi depois colocado em Damão, mas desertou em 1789, embarcando para Macau.
Foi preso pela inquisição, e na cadeia traduziu poetas franceses e latinos.
A década seguinte é a da sua maior produção literária e também o período de maior boémia e vida de aventuras.
Ainda em 1790 foi convidado e aderiu à Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia, onde adoptou o pseudónimo Elmano Sadino. Mas passado pouco tempo escrevia já ferozes sátiras contra os confrades.
Em 1791, foi publicada a 1.ª edição das “Rimas”.
Já Bocage não sou!…
À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
(…)

— Bocage
Dominava então Lisboa o Intendente da Polícia Pina Manique que decidiu pôr ordem na cidade, tendo em 7 de Agosto de1797 dado ordem de prisão a Bocage por ser “desordenado nos costumes”. Ficou preso no Limoeiro até 14 de Novembro de1797, tendo depois dado entrada no calabouço da Inquisição, no Rossio. Aí ficou até 17 de Fevereiro de 1798, tendo ido depois para o Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos de São Filipe Neri, depois de uma breve passagem pelo Convento dos Beneditinos. Durante este longo período de detenção, Bocage mudou o seu comportamento e começou a trabalhar seriamente como redactor e tradutor. Só saiu em liberdade no último dia de 1798.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir.
A partir de 1801, até à morte por aneurisma, viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente.
A 15 de Setembro, data de nascimento do poeta, é feriado municipal em Setúbal.(Wiki)

Auto-retrato


Retrato gravado a buril e água-forte por Joaquim Pedro de Sousa
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento. (Wiki)  Bocage . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  Uma revelação que tive na reunião do nosso "Grupo" foi de que eu e Bocage encarnaríamos na mesma época, na cidade do Rio de Janeiro e estaríamos, lado a lado com a mesma missão. Isso foi como um presente da Providência que justifica a minha admiração que sempre tive, de modo especial por essa figura humana tão desprendida das regras e convenções da sociedade e da igreja em autêntica personalização ímpar e invejável pelos medíocres.