T R A N S I ÇÃO

T R A N S I ÇÃO
Uitonius, um amigo de Júpiter.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Visita inesperada de Uitonius - Post 127

Domingo à noite fui deitar-me cedo. Os pensamentos iam e vinham prenunciando uma longa noite de insônia. Por mais me esforçasse para não pensar em nada, em tudo pensava. 
Um daqueles pensamentos era o fato de não ter mais postado nada sobre as minhas experiências, e, isso ocorreu, tão logo Uitonius me dizer que eu já postara tudo que deveria ser postado, liberando-me, entretanto, para postar fatos que me parecessem importantes ou sobre a Doutrina Espírita. E, desta forma o venho fazendo. 

Haviam coisas que eu deixara de postar, como já expliquei, para comprimir algum relato e não torná-lo repetitivo ou cansativo. 

Senti, por volta da primeira hora da madrugada, envolvido por meus pensamentos o pensamento forte e inconfundível de Uitonius. De lá, acredito que da nave Segurança, ele me enviava a comunicação mental que, como sempre, me chegava nítida como a voz de alguém que nos fala ao ouvido. 

Pulei da cama e pedi que esperasse até eu chegar à cozinha.
Aquele lugar em que eu me habituara a manter nossos contatos se tornara para mim mais do que um simples local da casa; tornara-se uma referência mental ou circunstancial da nossa convivência por longos meses. 

E como diz o ditado popular que "o hábito faz o monge" eu antes de me sentar já me servi de um café e coloquei um cinzeiro à minha disposição.

-Olá meu querido Gui -falou-me em pensamento-, vejo que estás te tornando um adepto dos rituais;  que tanto combates.
-E por que dizes isso?
-Ora, basta que sintas minha presença para procurar o local que parece tornado sagrado, pegar uma xícara de café e o cinzeiro para o cigarrinho.
Fiquei sem saber o que responder. Meio encabulado e sem jeito.
Ele riu ao perceber que me confundia.
-Não se preocupe com estes detalhes que acabei de te falar. Isso faz parte dos costumes adquiridos quando se tem matéria a manipular. Cá entre nós, também tenho minhas manias.
Desta vez, rimos os dois.

Uitonius sabe como manipular o meu humor. Como filho que foi, por diversas vezes, sabe mais de mim do que eu, como pai que fui, sei dele.
-Então, como vai indo o teu Blog? 
Como se não soubesse, procurava ouvir a minha opinião, ... eu acho!
-Vai bem!
-Continua sendo lido com frequência por brasileiros e estrangeiros, embora as novas postagens já não tratem tanto da minha aventura com vocês. 
-Tenho postado algumas coisas sobre Espiritismo, moral, filosofia e ciência. 
-Tenho tentado deixá-lo sempre atualizado.
Ele fez um silêncio que adivinhei estar pensando.
-Eu também sou da opinião que você deva manter sempre novas postagens. Não importa que sejam assuntos de estudo diversos. Todos eles são de grande valia e elucidativos. E te digo isso porque, muitos se manterão como seguidores dessas novas mensagens, valorizando seus conteúdos, e aqueles que viam tuas postagens, apenas como uma história de ficção, na verdade não eram nosso alvo.
-Continue nessa linha e, espere que em breve teremos mais relatos e novos contatos a oferecer a todos.
Eu fiquei curioso, ... é claro! Quem não ficaria?
-Novos contatos, perguntei?
-Sim Gui, estaremos em breve trazendo notícias do trabalho de Sócrates e alguns amigos que insistem em te visitar; amigos novos que conquistastes em tua passagem pela Segurança.

Aquelas palavras, ou pensamentos, caíram sobre mim como um bálsamo. 
Vocês não imaginam a falta que me faz os contatos mediúnicos com a frequência que fizemos nestes meses todos.

Foi então que perguntei sobre os leitores do Blog: -Você acha que o objetivo está sendo atingido?
-Não tenha dúvidas à esse respeito. Como eu te disse, você manterá um número de leitores assíduos, e isso é o que importa. Mas saiba que, somente o tempo mostrará os frutos que estarão sendo saboreados. Não somos imediatistas pois o que não se estrutura, padece por falta de sustentabilidade e, nosso objetivo não é o do encantamento momentâneo. As idéias devem percorrer os caminhos de terras férteis. São como sementes. Você conhece esta parábola muito bem!

Uitonius me surpreendia ainda. Com ele eu só conseguia aprender.

Conversamos mais alguns minutos e ele se despediu.
Eu me sentia envolvido por uma felicidade indefinida.
Ele sempre aparecia quando eu mais precisava. E ele sabia disso!

Voltei ao meu quarto e, desta vez, sem muito pensar, dormi; quer dizer, meu corpo adormeceu mas meu Espírito, como o de todos, permaneceu na vigília permanente dos Espíritos.


O Espiritismo e a Ciência - off


O Espiritismo é realmente uma Ciência?


Para uns, a questão parece estar definitivamente resolvida pela negativa. Como vêem o Espiritismo como mais uma variação do misticismo e do ocultismo, pensam que este se opõe ao positivismo da ciência. Que essa afirmação venha de materialistas obstinados, de fanáticos de outras religiões ou de pessoas que ignoram os fundamentos da doutrina espírita, é de se esperar. Mas o que não deveríamos esperar é que muitos dos que se dizem espíritas, muitas vezes até conhecedores de toda a obra de Kardec, tivessem esse tipo de dúvida. Esperamos com esse texto contribuir para a elucidação definitiva da questão, se não para o primeiro grupo, mas pelo menos para o segundo.

Um dos significados da palavra "ciência" é conhecimento. Mas para o conhecimento ser ciência, é preciso tratar-se de um conhecimento verdadeiro ou, como normalmente ocorre, pelo menos um conhecimento que pode ser verdadeiro. A partir do momento que determinado conhecimento é descoberto falso, deixa de ser conhecimento para tornar-se fábula, estória, mito.

Após essa análise preliminar, vamos analisar o caso espírita:  O Espiritismo se baseia, entre outras coisas, na existência dos espíritos e na sua relação com o mundo material. O simples fato de os espíritos existirem e o Espiritismo estudá-los com método próprio, já faz este tornar-se uma ciência, na completa acepção da palavra e não seria preciso dizer mais nada. Se, ao contrário, os espíritos não existissem, o Espiritismo não só não seria uma ciência, como também não seria filosofia nem tampouco religião. Seria apenas uma falácia bem estruturada, como muitas de que temos conhecimento. Portanto, a solução da questão se o Espiritismo é ou não uma ciência, reside na resposta da questão: existem ou não espíritos?

Ao redor do mundo, em todos os povos, em todos os tempos, em todas as culturas, podemos encontrar relatos de pessoas que mantiveram contatos com seres que poderiam ser enquadrados no conceito espírita de "Espírito". Na atualidade, temos diversos médiuns ativos atuando e escrevendo milhares de livros que eles afirmam terem sido ditados por espíritos.

De todos esses relatos, decerto, não podemos considerar tudo verdadeiro. Com certeza, encontraremos muita ilusão, alucinação e charlatanismo. Mas será que em nenhum caso poderíamos encontrar boa-fé e lucidez? Será que podemos considerar todos os relatos falsos, inclusive os que foram testemunhados por várias pessoas?  Será que as mesas girantes, que se deram por toda a Europa por mais de 5 anos ininterruptos e estão registrados em vários jornais da época, eram todas fruto de ilusão e charlatanismo coletivo? Desses milhões de relatos, se um único contiver uma informação verdadeira, a existência dos espíritos estaria positivamente e irrefutavelmente comprovada. Quando tratamos da mediunidade paga, é fácil desconfiarmos do charlatanismo. Mas e quando são pessoas dignas de fé que nos relatam? E quando são considerados sábios? Numa pesquisa recentemente realizada em 2004 com 115 médiuns ativos em São Paulo, quase a metade (45,5%) possuía pelo menos o curso superior; e mais de 74% pelo menos o segundo grau; todos eles levam uma vida normal, com atividades normais e praticam a mediunidade em momentos de folga (1). Toda essa gente é iludida? Toda essa gente é alucinada? Toda essa gente é charlatã?

Uma recente estatística da Federação Espírita Brasileira (2) mostra que existem aproximadamente 10.000 centros afiliados à instituição. Sabemos que os centros normalmente possuem pelo menos 1 médium ativo. Além dos associados à Federação Espírita Brasileira existem vários outros centros que, por motivos diversos, decidiram não se afiliar à instituição, mas que também cada qual possui pelo menos 1 médium ativo.  Todos eles afirmam manter contatos com seres que se autodenominam "espíritos".  Será que 100% desses médiuns mentem? A troco de que, se a maioria trabalha voluntariamente, e muitas vezes com grandes sacrifícios? Volto a repetir que uma única verdade no meio disso tudo comprova o fato.

Portanto, vasta documentação existe e, baseada nela, já podemos considerar a existência espiritual um fato. E como o Espiritismo trata do estudo desse fato, ou seja, dessa verdade, o Espiritismo pode ser considerado ciência. A ciência dita oficial é que ainda não descobriu isso. Mas para aqueles que ainda assim duvidam, dizemos que a quantidade de relatos existentes produzem elementos mais do que suficientes para dúvida razoável. Ora, como com esses relatos podemos pelo menos considerar a existência dos espíritos uma hipótese válida, então o seu estudo e pesquisa pode igualmente ser considerado ciência. Aos materialistas, que parecem estar convictos do contrário, ou seja, da não existência dos espíritos, pediríamos que se esforçassem mais para nos provar isso positivamente e nos ajudar a abrir os olhos, levando o Espiritismo de uma vez por todas para o domínio das fábulas. Temos certeza de que quem se lançar nesta busca, neste objetivo, vai encontrar as convicções de que necessita.

No dicionário (3), encontramos também a seguinte definição para ciência:

"Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio."

Ora, o Espiritismo é um conjuto organizado de conhecimentos (a codificação espírita) relativos a um determinado objeto (os espíritos e suas relações com o mundo material), especialmente os obtidos mediante a observação (dos fenômenos espontâneos e dos provocados, como as mesas girantes e as psicografias), a experiência dos fatos (pela identificação das características comuns a todos os eventos) e um método próprio (como os descritos em O Livro dos Médiuns). Mais uma vez, a dificuldade da questão reside no "objeto", que já discutimos acima. Atestada a realidade do "objeto", o Espiritismo torna-se automaticamente uma ciência na acepção completa da palavra, gritem o quanto quiserem os seus opositores.

Também no mesmo dicionário encontramos os diversos ramos da ciência: Ciências Exatas (a matemática); Ciências Experimentais (aquelas cujo método exige o recurso da experimentação); Ciências Humanas (as que estudam o comportamento do homem individual ou coletivamente); Ciências Morais (as que estudam os sentimentos, pensamentos e atos do homem), etc...

O Espiritismo não pode, certamente, ser considerado uma ciência exata. Mas é, definitivamente, uma ciência experimental, humana e moral, embora essas os materialistas afirmem que, em última instância, não existem de fato e que podem ser reduzidas às ciências exatas. Dizem que o determinismo da genética, criado pelo indeterminismo do acaso, é capaz de prever quando vamos nos irritar, nos sentir felizes, prejudicar alguém, roubar um banco, etc... Fazem de conta que a realidade metafísica não existe, quando esta salta aos olhos dos menos clarividentes, e descartam uma parte da realidade simplesmente por não conseguirem modelá-la e circunscrevê-la com se faz com formulações químicas comuns. E são esses cegos voluntários que comumente chamamos, impropriamente, de "sábios". Acham que porque já sabem explicar meia dúzia de mecanismos físicos já são igualmente capazes de explicar toda a natureza e o universo. Orgulho disfarçado de sabedoria, que não consegue admitir que a partir de certo ponto ainda não se é capaz de afirmar nada, mas só imperfeitamente opinar, e que suas opiniões não valem mais do que as outras.

Como a ciência oficial ainda é, em grande parte, constituída por esses "sábios", não podemos esperar, pelo menos por hora, que a realidade espiritual e metafísica sejam aceitas pela comunidade científica. Já nos sentimos bastante felizes que uma parte significativa dos cientistas já se predispôs a analisar o problema, embora infelizmente acabem caindo em descrédito por dar ouvidos a "lunáticos" e "charlatães". É só mais um caso onde a crença cega (neste caso, a descrença) tem levado a melhor sobre a razão, a lógica e os fatos. Mas o futuro desponta e nos acena que esta realidade está para se modificar em breve.

Quanto a nós, espíritas, façamos o nosso trabalho de esclarecimento, sem pressa nem exaltação para querer convencer a Deus e ao mundo, pois, afinal de contas, o cego que se recusa a abrir os olhos só prejudica a si mesmo. Nosso trabalho resume-se a fornecer elementos de pesquisa para aqueles que realmente querem abrir os olhos e desenvolverem os "olhos de ver".


Rafael Gasparini Moreira
Paulínia/SP
e-mail: rafael.gasparini@gmail.com
set/2007 (revisado out/2007).


Fontes Bibliográficas:
(1)   Fonte: Tese apresentada em 2004 ao Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências por Alexander Moreira de Almeida, sob o título: Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas. Pág. 65.
(3)   Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2a edição revista e aumentada, 1986 - 36a edição - Editora Nova Fronteira.

sábado, 25 de junho de 2011

Regeneração - off

Regeneração da Humanidade
(Resumo das comunicações dadas pelas Sras. M... e T... em estado sonambúlico)
Paris, 25 de abril de 1866
(Obras Póstumas - Minha primeira iniciação no Espiritismo)

Precipitam-se com rapidez os acontecimentos, pelo que já não vos dizemos, como outrora: “Aproximam-se os tempos.” Agora, dizemos: “Os tempos são chegados.” Não suponhais que as nossas palavras se referem a um novo dilúvio, nem a um cataclismo, nem a um revolvimento geral. Revoluções parciais do globo se hão produzido em todas as épocas e ainda se produzem, porque decorrem da sua constituição, mas não representam os sinais dos tempos.

Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho tem de cumprir-se e neste momento se cumpre, conforme o reconhecereis mais tarde . Não tomeis, porém, os sinais anunciados, senão como figuras, que precisam ser compreendidas segundo o espírito e não segundo a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria e, por se terem apegado à letra, é que os comentadores se transviaram. Faltou-lhes a chave para lhes compreenderem o verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo vem revelar. Daqui em diante, com o auxílio desses novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.

Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não vereis milagres, nem prodígios, nem fatos sobrenaturais, no sentido vulgarmente dado a essas palavras.

Não olheis para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum vereis, e os que vo-los anunciarem estarão a enganar-vos. Olhai em torno de vós, entre os homens: aí é que os descobrireis.

Não sentis que um como vento sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que a tempestade se aproxima.

Não acrediteis, porém, no fim do mundo material. A Terra tem progredido, desde a sua transformação; tem ainda que progredir e não que ser destruída. A Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.

O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

De mundo de expiação, a Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será uma recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem sucederá ao reinado do mal.

Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso se faz que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que unicamente ao bem aspirem. Como já chegou esse tempo, uma grande emigração neste momento se opera entre os que a habitam. Os que praticam o mal pelo mal, alheios ao sentimento do bem, dela se verão excluídos, porque lhe acarretariam novamente perturbações e confusões que constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o seu endurecimento em mundos inferiores, aos quais levarão os conhecimentos que adquiriram, tendo por missão fazê-los adiantar-se. Substituí-los-ão na Terra Espíritos melhores que farão reinem entre si a justiça, a paz, a fraternidade.

A Terra, dissemo-lo, não será transformada por um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança na ordem natural das coisas. Tudo, pois, exteriormente, se passará como de costume, com uma única diferença, embora capital: a de que uma parte dos Espíritos que nela encarnam não mais encarnarão. Em cada criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e propenso ao mal, encarnará um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Trata-se, portanto, muito menos de uma nova geração corporal, do que de uma nova geração de Espíritos. Assim, desapontados ficarão os que contem que a transformação resulte de efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

A época atual é a da transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermédio, assistis à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já se assinala no mundo pelos caracteres que lhe são próprios.

As duas gerações que sucedem uma à outra têm idéias e modos de ver inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo pelas disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir à qual das duas pertence cada indivíduo.

Tendo de fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão-só de Espíritos eminentemente superiores, mas de Espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, primeiramente, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de qualquer poder acima da Humanidade; depois, pela propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternais do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância de apego a tudo o que é material.

Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que recalcitram em emendar-se, visto que são incompatíveis com o reino da fraternidade e os homens de bem sofreriam sempre com o contacto dessas criaturas. Livre deles a Terra, os outros caminharão desembaraçadamente para o futuro melhor, que lhes está reservado neste mundo, em recompensa de seus esforços e da sua perseverança, enquanto uma depuração ainda mais completa não lhes abre o pórtico dos mundos superiores.

Com referência a essa emigração de Espíritos, ninguém pretenda que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores. Muitos, ao contrário, aí hão de voltar, porque muitos cederão ao império das circunstâncias e do exemplo; neles, a casca está mais estragada do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa da que as viam quando vivos, conforme os numerosos casos que já tendes apreciado. Para isso, terão a ajudá-los os Espíritos bons, que por eles se interessam e que se esforçam por esclarecê-los e por lhes mostrar que errado era o caminho que trilhavam. Pelas vossas preces e exortações, podeis contribuir muito para que se melhorem, porque há perpétua solidariedade entre os mortos e os vivos.

Aqueles, conseguintemente, poderão voltar e se sentirão felizes, porque isso lhes será uma recompensa. Que importa o que tenham sido e feito, se animados de melhores sentimentos se encontram? Longe de se mostrarem hostis à sociedade, serão seus auxiliares úteis, porquanto pertencerão à geração nova.

Não haverá, pois, exclusão definitiva, senão dos Espíritos substancialmente rebeldes, daqueles que o orgulho e o egoísmo, mais do que a ignorância, tornaram surdos aos apelos do bem e da razão. Esses mesmos, porém, não estarão votados a perene inferioridade. Dia virá em que repudiarão o passado e abrirão os olhos para a luz.

Assim, orai por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto ainda é tempo, visto que se aproxima o dia da expiação.

Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá na sua cegueira e a resistência que virá a opor mascarará, por meio de terríveis lutas, o fim do reinado dos que a constituem. Desvairados, correrão à sua própria perda; provocarão destruições que darão origem a um sem-número de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era de renovação.

E, como se não se operasse com bastante rapidez a destruição, os suicídios se multiplicarão em proporções inauditas, até entre as crianças. A loucura jamais terá atingido tão grande quantidade de homens que, antes mesmo de morrerem, estarão riscados do número dos vivos. São esses os verdadeiros sinais dos tempos e tudo isso se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como já o dissemos, sem que haja a mais ligeira derrogação das leis da Natureza.

Contudo, através da escura nuvem que vos envolve e em cujo seio ronca a tempestade, já podeis ver despontando os primeiros raios da era nova. A fraternidade lança seus fundamentos em todos os pontos do globo e os povos estendem uns aos outros as mãos; a barbárie se familiariza no contacto com a civilização; os preconceitos de raças e de seitas, que causaram o derramamento de ondas de sangue, se vão extinguindo; o fanatismo, a intolerância perdem terreno, ao passo que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito  Por toda parte fermentam as idéias; percebe-se o mal e experimentam-se remédios para debelá-lo, mas muitos caminham sem bússola e se perdem em utopias. O mundo se acha empenhado num imenso trabalho de gestação que já dura há um século; nesse trabalho, ainda confuso, nota-se, todavia, que predomina a tendência para determinado fim: o da unidade e da uniformidade, que predispõem à confraternização.

Também aí tendes sinais dos tempos. Mas, enquanto que os outros são os das agonias do passado, estes últimos são os primeiros vagidos da criança que nasce, os precursores da aurora que o próximo século verá despontar, pois que então a geração nova estará em toda a sua pujança. Tanto a fisionomia do século dezenove difere da do décimo oitavo, sob certos pontos de vista, quanto a do vigésimo diferirá da do século dezenove, sob outros pontos de vista.

A fé inata será um dos caracteres distintivos da nova geração, não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortifica, que os une e confunde num sentimento comum de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

O Espiritismo é a senda que conduz à renovação, porque destrói os dois maiores obstáculos que se opõem a essa renovação: a incredulidade e o fanatismo  porque faculta uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as idéias que correspondem aos modos de ver da nova geração, pelo que, no coração dos representantes desta, ele se achará inato e em estado de intuição. Assim, pois, a era nova vê-lo-á engrandecer-se e prosperar pela força mesma das coisas. Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

Mas, daqui até lá, que de lutas terá ainda de sustentar contra os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que — coisa singular! — se dão as mãos para abatê-lo. É que os dois lhe pressentem o futuro e, em conseqüência, a ruína de ambos. Essa a razão por que o temem; já o vêem erguendo, sobre os destroços do velho mundo egoísta, a bandeira em torno da qual se reunirão todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade não há salvação, eles lêem a sua própria condenação, porquanto essa máxima é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes apresenta como as palavras fatais do festim de Baltazar  Entretanto, deveriam bendizer essa máxima, porquanto os defende de todas as represálias da parte dos que os perseguem. Tal, porém, não se dá: uma força cega os impele a rejeitar a única coisa capaz de salvá-los.

Que poderão contra o ascendente da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, ficai certos, porquanto ele está nas leis da Natureza, não podendo, por isso mesmo, perecer. Observai a multiplicidade de meios por que a idéia se espalha e penetra em toda parte; crede que esses meios não são fortuitos, mas providenciais. O que, à primeira vista, devera ser-lhe prejudicial é exatamente o que lhe auxilia a propagação.

Dentro em breve, surgirão campeões que em voz alta se proclamarão tais, entre os de maior consideração e mais acreditados, os quais, com a autoridade de seus nomes e de seus exemplos o apoiarão, impondo silêncio aos que o detratem, pois ninguém ousará tratá-los de loucos. Esses homens o estudam em silêncio e aparecerão quando for chegado o momento oportuno. Até lá, bom é se conservem afastados.

Dentro em pouco, também vereis as artes se acercarem dele, como de uma mina riquíssima, e traduzirem os pensamentos e os horizontes que ele patenteia, por meio da pintura, da música, da poesia e da literatura. Já se vos disse que haverá um dia a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã. É uma grande verdade, pois os maiores gênios se inspirarão nele. Em breve, vereis os primeiros esboços da arte espírita, que mais tarde ocupará o lugar que lhe compete.
Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e devotados. Não vos assustem os obstáculos, porquanto nenhum há que possa embaraçar os desígnios da Providência. Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus o ter-vos colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos solicitastes e do qual é preciso vos mostreis dignos pela vossa coragem, pela vossa perseverança e pelo vosso devotamento. Felizes dos que sucumbirem nessa luta contra a força; a vergonha, ao contrário, esperará, no mundo dos Espíritos, os que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contacto com o mal faz que melhor se apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se entregaria a uma despreocupação funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais.


Fonte:
1. KARDEC, A. Obras Póstumas, Minha primeira iniciação no Espiritismo.
2. BOURDIN, A. Entre Dois Mundos, cap. VII, págs. 35 a 37.

                                ♣           ♣           ♣           ♣            ♣
Quando o culto de Deus é o primeiro conceito supremo a que alguém subordina os seus deveres e, por conseguinte, a ele se submete a virtude, então este objeto é um ídolo, ou seja, Deus é concebido como um ser a quem podemos esperar agradar, não mediante um bom comportamento moral no mundo, mas pela adoração e adulação. Neste caso, a religião torna-se idolatria. (Immanuel Kant - Religião nos limites da simples razão, 1793) ´


---------------------------------------    ♣    ----------------------------------------------
A ilusão, consistindo em acreditar que pelos atos religiosos do culto se pode fazer alguma coisa para a própria justificação perante Deus, é a superstição religiosa. De igual modo, o fanatismo religioso consiste na ilusão de atingir esse objetivo mediante o esforço para ter um pretenso comércio com Deus. Querer tornar-se agradável a Deus por atos que cada um pode realizar sem ser por isso um homem de bem (por exemplo, professando dogmas estatutários, conformando-se às observâncias e à disciplina da Igreja, etc.) é uma ilusão supersticiosa. Chama-se supersticiosa porque escolhe por si mesma simples meios naturais (em nada morais) que em si não podem de modo algum agir sobre o que não é da natureza (ou seja, o bem moral). (Immanuel Kant - Religião nos limites da simples razão, 1793)
OOO

sábado, 18 de junho de 2011

Esclarecimentos sobre o Espiritismo-Ser ou não ser "religião" -OFF

Tenho, neste Blog, citado a visão Espírita sobre diversos assuntos. Muitos me perguntam se a minha "religião é a religião Espírita"; e tenho a declarar que não possuo religião, posto que o Espiritismo não é uma religião. É Filosofia e Ciência com conseqências morais.
Posto abaixo as considerações feitas pelo amigo Jorge Murta, sobre o assunto:

Porque Não Considerar o Espiritismo Como Religião?

A questão de saber se o espiritismo é ou não uma religião, mais que todas as outras questões, não é matéria meramente opinativa, pois depende de apreciação de muitos fatos, mas conduz a posições opinativas, a radicalizações. Irei nesse tópico apenas elencar fatos históricos e etimológicos trazidos por Kardec sobre a questão "religião", na Revista Espírita.

Sentindo Kardec que as palavras se revestem de imensa importância, cuidou de garantir, assegurar, que o espiritismo, todo um novíssimo universo de idéias e fatos, pudesse ser traduzido, vazado, por um elenco de palavras perfeitamente explícito, com um mínimo risco de confusões e obscuridade possível.

A codificação é, no seu contexto, tão explicita, tão clara, que me pergunto como pode haver alguma dúvida sobre as transparentes colocações de Kardec.

Este nunca deixou de pautar-se por três constantes, de que não se desviava:

a) jamais chamava o espiritismo de religião;

b) repreendia, refutava, animoso até, em polêmicas, os que insistiam em dar à
doutrina tal rotulação; e

c) ele mesmo só chamava o espiritismo de ciência ou doutrina, adjetivando esses substantivos de modo variado, mas sempre como matéria cientifica, filosófica e moral.

Por vezes, no que era acompanhado pelos Espíritos, concedia-lhe o epíteto de “laço”. Laço social, laço moral, laço sublime, era como às vezes chamava o espiritismo. Que quer dizer?

Temos de voltar ao começo da civilização ocidental, aos costumes e à cultura de Roma, à fonte da latinidade, para surpreender a prístina, primitiva, original acepção da palavra religião: tinha para os romanos, no latim, a significação de “nó” ou “laço”.

Quando Kardec recusava-se obstinadamente – e era irredutível nisso – a chamar de religião ao espiritismo, era ao vocábulo que objetava, pelo rumo que tomou, no curso dos séculos.
Mas não desadorava o conceito natural, nativo, que esse vocábulo expressava em tão priscas eras: o de laço moral, laço social, principio da união civil e política. Nos Prolegômenos d’O livro dos Espíritos, em seus últimos parágrafos, há a referência ao caráter de “laço fraternal que envolverá o mundo inteiro”. É o velho conceito romano, e religio-religionis, antes que a palavra fosse desnaturada, descambando para o significado de culto que estaciona hoje.

Na Revista Espírita de 1858, paginas 208/210, vol. 1 (coleção EDICEL), há uma carta de um certo Marius M. De Bordéus, que pede licença a Kardec para chamá-lo de confrade e conceitua que “a doutrina deve ser um laço fraternal entre todos que a compreendem e a praticam”.
Kardec retribui a essa conceituação com um lance antológico que vale a pena transcrever:

“Com efeito o espiritismo é um laço fraternal, que deve conduzir à prática da verdadeira caridade cristã todos os que a compreendem na sua essência, porque tende a fazer desaparecer os sentimentos de ódio, inveja e ciúme, que dividem os homens”.

Faz notar uma importante diferença, numa ressalva necessária:

“Mas esta fraternidade não será a de uma seita; para ser segundo os divinos preceitos de Cristo, deve abarcar a humanidade inteira, pois todos os homens são filhos de Deus...”.

Aí esta estampada, cruamente, a utilização do conceito natural de religio- religionis (nó, laço, nexo, relação social), com clara exclusão do outro sentido, o sobrenatural, que a palavra tomou depois, que implica o significado de culto e seita.

Nenhum culto, por mais hegemônico que seja, logrou jamais envolver a humanidade inteira. Todos se quedaram, sem exceção, detidos por limitações e partições geográficas, culturais, políticas, raciais, nacionais, lingüísticas.

Também nos prolegômenos, há a declaração de que ali está uma filosofia racional, isenta dos prejuízos do espírito de sistema, vale dizer, do dogmatismo.

Sem dogmatismo, que é o espírito de sistema; sem o sectarismo, que é o espírito de seita, como pode alguém enxergar aquela doutrina, que é um laço natural, nunca sobrenatural, feito de fatos e princípios, como sendo um culto religioso?

Ao cabo de um ano, ei-lo às voltas com um afoito Abade, François Chesnel, que pelas paginas de L’Univers, chamara o espiritismo de “uma nova religião de Paris”.

Na Revista de 1859, paginas 141 a 150 e 211 a 213, está documentada a
forte reação de Rivail a esse fato.

“Os fatos protestam contra essa qualificação”, principia (pg. 150).

“Em segundo lugar, é o espiritismo uma religião?”.

“Fácil é demonstrar o contrário” (pg. 148).

“Seu verdadeiro caráter é o de uma ciência, não o de uma religião” (idem).

“...tem conseqüências morais, como todas as ciências filosóficas” (idem).

“O espiritismo não é, pois, uma religião. Do contrario teria seu culto, seus templos, seus ministros” (idem).

O Abade havia-se louvado, para aquela qualificação (de religião), no fato de os espíritas orarem a Deus em suas reuniões.

Kardec protesta:

“Que prova isto?”.

“Que não somos ateus. Mas de modo algum implica que sejamos adeptos de uma religião” (p. 149).

Antes havia assinalado o fato incrível de que, entre os adeptos do espiritismo, havia profitentes de todas as religiões e seitas: católicos, protestantes, israelitas, muçulmanos, budistas e bramanistas.

Quer dizer, eram religiosos por suas crenças em diversas religiões, no sentido de culto que esta palavra tem. Mas isso não se aplicava à sua adesão ao espiritismo, que não é uma religião no mesmo sentido, apenas um laço social, religando todos os que compreendem e praticam a doutrina, formando uma comunidade multirracial, multinacional, multilingüe, multiconfessional, uma perfeita antecipação do que seria um Esperanto, por exemplo, isto é, um fato muito abrangente que supera todas as partições e divisões humanas.
Por tudo isso, sabe-se qual era a permanente posição do Codificador, primeiro quanto ao espiritismo, segundo, quanto aos que vivam a chamar a este do que não é.

Essa polemica foi rumorosa. Teve replica do Abade. Kardec respondeu-lhe, também está nas paginas 211/213 do mesmo volume.

Explicita ali que “...o Abade Chesnel se esforça sempre por provar que o espiritismo é, deve ser e não pode deixar de ser senão uma religião nova, porque não decorre de uma filosofia e porque nele nos ocupamos da constituição moral e física dos mundos”.

E argumenta: “Sob esse aspecto, todas as filosofias seriam religiões” (pg. 211/212).

E repreende-os: “Realmente, senhor Abade, é abusar do direito de interpretar as palavras...” (...) “...Se, entretanto, o quiserdes elevar a todo custo ao plano de uma religião, vós o atirais num caminho novo” (213).

Para Kardec, o espiritismo era uma ciência filosófica que, longe de abafar as idéias religiosas, como fazem quase todas as suas congêneres, despertava aquelas idéias nas pessoas.

Mas isso, evidentemente, sem nunca se confundir com as religiões, isto é, os cultos, de cuja natureza não participa.

Porém, em 1861, no vol. 4 pg. 13, Kardec responde a Georges Gandy, diretor do Lê Bibliographie Catolique, um detrator da doutrina:

“Quereis a toda força, que o espiritismo seja uma seita, quando se aspira ao titulo de ciência moral e filosófica, que respeita todas as crenças sinceras”.

Estava lançada, de modo claro, a trilogia kardequiana: ciência, filosofia e moral.

Se a Igreja fraudou o significado-chave da civilização ocidental, inventando uma tradução inveraz, Kardec representou a restauração da verdade.

Aquela pagina 356 do vol. 11 da Revista Espírita, está carregada de eletricidade. Ali se repristina, volta-se, está-se remontando ao começo da civilização ocidental, num reencontro da cultura mundial com suas fontes.
No seu estado natural, nativo, com que nasceu, a palavra religião era só isso

– laço que reúne homens, que os aproxima, laço de substancia moral, feito de costumes espontaneamente assumidos e livremente mantidos e aceitos. Numa palavra – contrato social.

Religião ao natural é isso, tal é a religião natural a que o Espírito da Verdade aludiu um dia. Pois que isso o espiritismo é, um laço entre homens, laço feito de conhecimentos, noções, de habitualizações, convivências, hauridas nos fatos, nenhum mal haveria em ser pensado como aquele fato que antigamente se chamava de religião.

Chamado de religião, o espiritismo só parecia ser um culto aos olhos do povo e isso ele não é, não pode ser assim referido.

Por isso Kardec produz aquela explicação, na pagina 357 daquela obra, admitindo o óbvio, de que a doutrina espírita funciona como um laço entre os adeptos, identificando-os, solidarizando-os, não por pressões ou injunções, mas com base em leis naturais: a estima, a benevolência mutua, a fraternidade, a comunidade de conhecimentos e disposições .

É o sentido filosófico da palavra religião que está em jogo. Mas nem assim pode ainda a doutrina ser taxada de religião. Outros motivos poderosos impedem-no. Por isso Kardec descarta, de vez, qualquer aplicação da palavra para que o entendimento do povo não seja confundido.

E é isso que os seus seguidores devem fazer: atender a Kardec, não chamar o espiritismo de religião nem mesmo no sentido relativo, filosófico.

Pode-se perguntar por que Kardec não silenciou, quando teria sido fácil faze-o, ja que omitira aquela declaração durante todo o tempo que durara a Codificação.

Por que rompeu seu silencio a cinco meses de sua desencarnação? Foi seguramente o seu permanente compromisso com a verdade que ditou aquela manifestação.
Ao cunhar o nome de “espiritismo”, havia já decretado a necessidade futura de, a qualquer tempo, dar aquela explicação.

Os espíritas são adeptos do espiritismo, não os religiosos dele, pois não é um culto religioso. E correligionários é expressão que ficou confinada à área política, já que no âmbito profissional diz-se que há colegas, para estudantes e profissões liberais.

É uma questão de propriedade vocabular, que não pode ser ignorada: o adjetivo religioso/religiosa é privativo dos cultos látricos. Cada faixa de significação, entre os substantivos, traz a sua adjetivação adequada – o espiritismo consagrou a expressão de confrades, adeptos, tal como os radioamadores com “macanudos”, os esperantistas com “samideanos”, isto é, coidealistas.

Quando chamou de “ismo” a doutrina espírita, Kardec criou como que uma fatalidade semântica: passou a dever à cultura, à comunicação, aquela necessária explicação.

Portanto, ao subir à tribuna da Sociedade de Paris, a 1º de novembro de 1868, sexta-feira, às 20,30 horas, pesava sobre seus ombros a desincumbência de uma obrigação formidável, pessoal e histórica.

Nesse seu famoso discurso, de abertura da sessão anual comemorativa do Dia dos Mortos, na Sociedade de Paris, retoma o assunto e intitula a peça oratória com aquela mesma pergunta que fizera no bojo de sua resposta ad Abade:

“É o espiritismo uma religião”? (Revista Espírita, pg.351 a360, ref. Dezembro de 1868).

Desta feita, opta por um procedimento diferente. Já dissera nove anos antes (1859) de forma peremptória, que o espiritismo não era religião, enquanto essa palavra significasse culto formal, igreja ou seita, crença mística e piedosa ou coisa assim.
No discurso de abertura, todavia, que é o nome mais sintético com que ficou conhecida essa manifestação, produz algo surpreendente, que precisa ser devidamente avaliado em sua imensa novidade, em sua grande significação: inova a lexicografia, contraria a etimologia geralmente aceita, aponta outro étimo, que não é corriqueiro “religare”, como geralmente se supõe.

Não revela qual é o étimo novo que introduz, mas pela tradução que dele dá, sabe-se que é o mesmo que Cícero refere, é religio-nis.

Todavia, passa alem do texto cicerônico e repristina, faz arqueologia semântica, atribuindo ao étimo um alcance maior, fixando sua tradução em “laço! ou nó, de modo explícito, tornando claro o que Cícero apenas insinua.

Retraça, empolgante, o que era na cultura romana o conceito de religião (pág.
356):

“Com efeito, a palavra religião quer dizer laço”.

“Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças”.

“O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é pois um laço essencialmente moral que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações”.

“O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e sentimentos, a fraternidade, a solidariedade, a indulgência e a benevolência mutuas”.

Se compararmos essa manifestação com o que dissera em 1858, a Marius M., veremos que são complementares.

Em seguida, tendo fixado bem o que era o significado primitivo, original e
natural da palavra, desfecha (pág. 357):

“Se assim é, perguntarão, então o espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o espiritismo é uma religião e nos o glorificamos por isto, porque é a doutrina que funde os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza”.
Primeiro descreveu o que se deveria entender por religião, no sentido filosófico, que é o natural, na palavra. Era o seu nato e vero significado, esse que traçou: religião é um laço social e civil, religava homens entre si, formando comunidades por uma similitude natural.

Depois enquadra aí o espiritismo e estabelece que, nesse sentido natural da palavra, existe uma relação entre a doutrina e o vocábulo.

Isso não nega, mas confirma, o que dissera antes, no ano de em 1858 ao confrade de Bordéus, como expendera ao Abade em 1859. o espiritismo para Kardec, é um laço social, de substância moral, que consiste em uma ciência filosófica e moral, a qual não abafa as crenças religiosas, antes estimula-as, fazendo mesmo o prodígio de interessar e reunir, fazendo-os conviver lado a lado, pacificamente, os fiéis e crentes de todas as religiões.

Mas não é, ele mesmo, uma religião, pois não é um culto látrico, apenas uma doutrina filosófica espiritualista.

Claríssimo, não? Mas surgiram novas explicações:

“Por que então declaramos que o espiritismo não é uma religião”?

Eis aí uma boa pergunta. Todos estamos perplexos. Se ele é uma religião no sentido filosófico da palavra, não um culto, por que Kardec não dissera isso antes, limitando-se a declarar enfático que não era uma religião?

A resposta é magistral:

“Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes e que na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto.

Prossegue Kardec:

“Se o espiritismo se dissesse uma religião (...) o público não o separaria das idéias de misticismo...”.

Quer dizer: chamado de religião, ainda que no sentido filosófico da palavra, que não é um sentido místico, o povo, que não faz tais distinções finas, sutis, de ordem semântica, acabaria pensando que ali estava uma religião no sentido único que maneja e conhece: um culto, uma igreja.
Primeiro descreveu o que se deveria entender por religião, no sentido filosófico, que é o natural, na palavra. Era o seu nato e vero significado, esse que traçou: religião é um laço social e civil, religava homens entre si, formando comunidades por uma similitude natural.

Depois enquadra aí o espiritismo e estabelece que, nesse sentido natural da palavra, existe uma relação entre a doutrina e o vocábulo.

Isso não nega, mas confirma, o que dissera antes, no ano de em 1858 ao confrade de Bordéus, como expendera ao Abade em 1859. o espiritismo para Kardec, é um laço social, de substância moral, que consiste em uma ciência filosófica e moral, a qual não abafa as crenças religiosas, antes estimula-as, fazendo mesmo o prodígio de interessar e reunir, fazendo-os conviver lado a lado, pacificamente, os fiéis e crentes de todas as religiões.

Mas não é, ele mesmo, uma religião, pois não é um culto látrico, apenas uma doutrina filosófica espiritualista.

Claríssimo, não? Mas surgiram novas explicações:

“Por que então declaramos que o espiritismo não é uma religião”?

Eis aí uma boa pergunta. Todos estamos perplexos. Se ele é uma religião no sentido filosófico da palavra, não um culto, por que Kardec não dissera isso antes, limitando-se a declarar enfático que não era uma religião?

A resposta é magistral:

“Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes e que na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto.

Prossegue Kardec:

“Se o espiritismo se dissesse uma religião (...) o público não o separaria das idéias de misticismo...”.

Quer dizer: chamado de religião, ainda que no sentido filosófico da palavra, que não é um sentido místico, o povo, que não faz tais distinções finas, sutis, de ordem semântica, acabaria pensando que ali estava uma religião no sentido único que maneja e conhece: um culto, uma igreja.
Esperando que não me tomem por detrator da doutrina ou algo do tipo, pois estou apenas apresentando fatos históricos e etimológicos, trazidos por um professor e filólogo, que Rivail era, prossigo com mais fatos históricos, dessa vez apresentando o como e o porque do Espiritismo ter passado de “Doutrina Filosófica de Bases Cientificas e Conseqüências Morais”, assim definida por Kardec, a ser vista como “Ciência, Filosofia e Religião”, no Brasil.

No Brasil, o espiritismo entrou pela porta do misticismo, popularizando-se nas camadas sociais com substituto dos negros adivinhadores da senzala e dos magnetizadores, então em voga. A elite intelectual que a ele aderiu era constituída, em sua maioria, por religiosos que não renunciaram ao catolicismo, talvez porque – mesmo eles – não aceitavam-no como religião. Com o tempo, todavia, houve um sincretismo inevitável e o espírito de seita foi sendo formado, estilizando cultos e rituais das igrejas cristãs.

O que importa assinalar é que, como acentuou Carlos Imbassahy (o pai e não o filho), em sua obra “Religião”: “Allan Kardec é verdade, nunca chamou o Espiritismo propriamente de religião” (página 108, 2ª edição – 1951 – FEB). Ao contrário. Quem disse, foram os espíritas brasileiros e suas organizações. Alguns como o próprio Imbassahy, J. Herculano Pires e Deolindo Amorim, com admirável contribuição intelectual ou, entre os desencarnados, o espírito de Emmanuel, que através do médium Francisco Candido Xavier, lançou seu famoso triângulo, definindo o espiritismo como “ciência, filosofia e religião”, dando a esta última a primazia, o que foi considerado verdade final pelos organismos federativos do movimento.
Muitos se perguntarão se, diante do posicionamento de Emmanuel, Chico Xavier, Herculano, Deolindo e outros, haveria lugar para dúvida. A resposta é afirmativa. Porque é preciso repensar aquilo que foi estruturado no Brasil, com o nome de espiritismo e perguntar por que, ao cabo de mais de 150 anos, a doutrina continua sem identificação, confundida, adjetivada, mutilada, cada vez mais distante do genuíno pensamento kardequiano, como, curiosamente, os mesmos líderes e escritores mencionados, não cansam de denunciar.

È preciso encarar realística e sensatamente a verdadeira face o movimento espírita brasileiro e compará-la com a estrutura doutrinaria estabelecida por Allan Kardec e separar, refletir sobre o resultado prático alcançado. Reconhecer, enfim, que o espiritismo no Brasil foi erguido sobre bases de opiniões, ainda que respeitáveis, de espíritos e líderes que, todavia, refletiram não apenas suas idiossincrasia, mas também o ambiente cultural da sociedade brasileira desde o século passado, pelo menos.

Mas o espiritismo brasileiro também tem a sua historia particular. Quem leu já os excelentes livrinhos de Canuto de Abreu e Acquarone, biografando Bezerra de Menezes, há de ter-se espantado com a complicação que era o ambiente nacional, nos primórdios da doutrina. Dividiamo-nos em partidos que se desentendiam francamente. Havia os “místicos” e os “científicos”, os “espíritas” e os “Kardecistas”. (Lembra os religiosos e os ortodoxos de hoje, não?)

Muito mais tarde vamos encontrar o espiritismo dividido em “alto” e “baixo”, de “mesa” e de “terreiro”, com a introdução do complicador que foi o sincretismo. Havia quem dissesse das “linhas”, a branca, a oriental, a indiana e por aí a fora. Essa polarização e radicalização é que, antes da virada do século, levou a impasses fortes, que provocaram a formação da atual Federação Espírita Brasileira.
rônica nesses dias, em matéria documental, é produzida por partidários da facção que predominou. Os místicos, religiosos, evangélicos, como se denominavam, conseguiram impor-se, menos pelas razoes próprias que os amparassem de modo inconfundível, do que pelos erros e desorientação dos que foram alijados.


É preciso compreender como eram as coisas, então. O espiritismo era visto daqui, com fumaças e neblinas de desinformação. Era um pensamento francês, um requintado pensamento francês, donde vinham todos os demais que alimentavam a mentalidade brasileira, que habitava cabeças mais próprias para ostentar melenas e chapéus elegantes, do que, realmente, para pensar em profundidade.

Superficialismo, frivolidade e muita alienação cultural, adornavam a rarefeita vida intelectual do país. A base escravocrata, na aristocracia rural, rebaixava-nos como povo. Os livros de Kardec, embora conhecidos desde quase sua publicação inicial, somente foram traduzidos em 1875, dezoito anos depois e assim mesmo nem todos, nem na proporção e preço exigidos, para que se produzisse a informação plena.

Pode dizer-se que se entendia, então, o espiritismo, pela metade, filtrado pelas predisposições mentais de cada um, dominada que era nossa sociedade pelo imperialismo sectário da religião católica. Havia tanta desinformação que os adeptos viviam espantosamente incientes da natureza real daquilo que freqüentavam e diziam professar.

Os nomes de centros refletem essa perplexidade. São típicos produtos de mistura de catolicismo com outros elementos. Tipicamente religiosos.

O elemento intelectualizado, a elite que sustentava a comunicação, na tribuna, na imprensa, nos panfletos passados de mão em mão, também cindia-se.

Ou adotavam uma linha puramente literária ou confiavam-se a piedosas dissertações, copiando senão o fundo, pelo menos a forma dos discursos sacros.

Acquarone é mais objetivo que Canuto, mas ambos concordam que reinava um desafinamento total nessa orquestra de adeptos.
É perigoso julgar uma época como aquela, pelo risco de injustiçar. Hoje contamos com um formidável arsenal de instrumentos de analise e correção de rumo, que fazem a razão independer da tutela religiosa, mas naquele tempo pouco se podia fazer.

O roustainguismo foi mais assimilado pelas pessoas que vinham do catolicismo, tinham a mente obnubilada por preconceitos e bloqueios. O roustainguismo falava de coisas familiares. O culto da Virgem Maria, a proposta piedosa, as imagens da sua retórica toda sacralista.

Havia toda uma crosta de equívocos e mal entendidos no ar, impossíveis de serem desfeitos. Tendo faltado a esses veneráveis fundadores do movimento uma visão mais límpida, ficou-se com a impressão errônea de que Kardec era “científico” ao passo que Roustaing era mais “evangélico”.

Também deve-se reconhecer que os chamados “científicos”, costumavam descomedir-se, exceder-se, com insistências e elitismos, realismos incríveis, que terminaram justificando boa parte dos reparos que até hoje são-lhes desfechados. Os extremismos e radicalismos nunca conduzem a bons resultados, e o que deu foi se cavar, lentamente, o fosso de incompatibilidades e incompreensões, onde dificilmente se pode dar razão completa a cada um dos lados. (Novamente, não lembram os Espiritas religiosos e os Espiritas ortodoxos de hoje, ambos radicalizando em seus pontos de vista e achando que estão certos e o outro lado errado?)

Por volta dos anos 30, a situação política do Brasil era peculiar. Seguindo a onde universal dos regimes de direita, a ditadura de Vargas instalara-se apos a Revolução, que derrubara a Republica Velha, sob vibrações de justas esperanças.

Era um regime de exceção onde, à falta das claridades solares da lei, livremente fabricada em legislativos eleitos pelo voto livre do povo, com representação autenticamente democrática, pululavam os cogumelos e demais fungos típicos da sombra do arbítrio, as excrescências das ditaduras, afinal.
Vargas já tem os seus críticos e analistas, não irei engrossar esse número. Quero só dizer que Robert M. Levine, um brazilianist americano, portanto um daqueles que sabem das coisas, no seu livro, “O Regime de Vargas”, edição da “Nova Fronteira”, refere que a Igreja Católica, grande amiga e beneficiária de todos os totalitarismos, exigia e obtinha, do ditador, sempre que queria, o fechamento sumario de centros espíritas.

Que foi assim em 30, 32, 35, 37 e 38. quem o diz é um brazilianist, que afinal sabem mais do Brasil do que nos mesmos.

O fato é que o relacionamento entre o governo, a sociedade e o espiritismo foi pontilhado de lamentáveis incidentes e excessos perfeitamente dispensáveis, provocado pelo religiosismo sectário e intolerante, de um lado; de outro, pela eterna covardia moral e despreparo crônico das chamadas autoridades competentes, para administrar a coisa pública, principalmente a convivência entre as correntes de opinião.

Dirigentes e médiuns, freqüentadores de centros, eram presos arbitrariamente e fichados, numa vergonhosa rotina de cerceamento da liberdade de consciência e de reunião, mesmo sendo desarmada, para fins pacíficos, como rezava a Lei, mesmo a legalidade relativa das constituições suspensas e substituídas por decretos- leis.

A comunicação espírita arrisca-se a desmemória total do esforço e das abnegações desses confrades corajosos, íntegros, prudentes e humildes, que Deolindo Amorim evoca, salvando para a posteridade seus nomes.

Em meio a essa crise, um alvitre terá brotado, em certos círculos, como um achado: os cultos, as religiões, eram protegidos por lei, que lhes garantia o exercício.

Ora, o espiritismo era uma religião, (pensamento dominante nos círculos onde teria brotado o alvitre); logo, estaria protegido pelo manto da legalidade.
ue não confugir ao patrocínio da lei? Por que não refugiar-se sob sua proteção? Bastaria enfatizar o pretendido aspecto religioso, para o que não se precisaria fazer nenhum esforço especial, tão difuso era esse pensamento, entre os confrades, sinceros, bem intencionados.

É difícil resistir quando uma sugestão dessas vem vestida com tanta aparência de racionalidade, de sorte que muitos não teriam desadorado o lembrete.

Afinal, tínhamos compromisso com os pobres, os deserdados, os necessitados, aspirávamos a uma situação de legalidade e tranqüilidade, não de clandestinidade, não de martirológios.

A idéia pousou com a naturalidade das soluções sem alternativa, como se fosse a única, a mais acertada, a mais confiável.

Mas não era. Era mais parecido com a velha historia de Esaú e Jacob, quando o primeiro cedeu ao mais jovem o direito de primogenitura, através da barganha de um “prato de lentilhas” com seu irmão. O “prato de lentilhas” barganhado passou como símbolo da irreflexão que se tem quando se aliena um bem valioso, importante, capital, por coisas sem valor, num momento de precipitação, explorado pelo oportunismo, pela velhacaria.

Essa barganha é uma imagem literária de citação obrigatória, aqui, pois foi
assim que se consolidou, entre nós, a fantasia do religiosismo.

Pelo menos é o que se alega ter sido a razão da opção que se fez pelo religiosismo, como uma defesa contra pressões, por meio de uma mimetização com as religiões.

Para a corrente roustainguista, sincera e respeitável sempre, na coerência que mostrater com seu pensamento em separado, que é o de achar válida a teoria do díscolo de Kardec – aquela idéia caiu como sopa no mel.

Era a promoção de sua ideologia ao estagio de artigo de necessidade.
O espiritismo “tinha de” ser religioso, numa injunção, para por-se a salvo de perseguições, gozar dos mesmos direitos que as “demais” religiões, as “outras” religiões (é assim que costumam dizer nessa área).

Para a massa de adeptos, cujo raciocínio é místico, limitado a encarar o espiritismo como uma religião sucedânea da sua fé anterior, tudo estava bem. O enquadramento da doutrina nesse termos dispensava todo mundo da obrigação de mudar, de reciclar seu intimo par adaptar-se ao fato novo; este sim, o espiritismo, é que estaria sofrendo uma mudança para adaptar-se ao gostinho acomodatício dos adeptos.

Tudo não passava de uma colossal mimetização.

Enquanto a área religiosa da comunidade, encabeçada pela venerável Federação Espírita Brasileira, sentia-se à vontade com essa forma mimetista, que afinal casava-se com seu propósito natural, já que roustainguismo é uma visão confessionalista – a outra área não roustainguista, que era quase que só a Liga Espírita do Brasil, teve a lucidez de gerar outro tipo de reação, uma providência muito mais eficaz, que passava bem ao largo dessa mimetização.

Para esta área, aquela emenda sairia bem pior que o soneto, pois o espiritismo, uma vez nivelado, por oportunismo, com os cultos, assemelhado a eles, do ponto de vista de proteção legal,podia ser isso uma solução de ocasião,mas no fundo representaria um lamentável desprezamento da Codificação, que se opunha, como se sabe, a qualquer confusão naquele sentido.

Esaú, vendendo seus direitos por um prato de lentilhas, matou sua fome no momento mas alienou vantagens e interesses de grande importância e significação para sempre.

O espiritismo aceitando ser visto como religião para fugir a perseguições, poderia gozar uma relativa calmaria – por quanto tempo? – mas trairia seu permanente compromisso de lealdade a Kardec, que expressamente desautorizava tal transigência.
Era uma questão de princípios. A mimetização só interessava realmente a quem já tinha assentado no seu intimo que o espiritismo era mesmo um culto religioso, uma visão opiniática, sem dúvida, pois nao é essa a expressa realidade da Codificação.
Mas o Espiritismo nao é religiao numa concepção tradicional de ritualismo, mas seria religiao no sentido de religar o homem a Deus?

É o caso de se perguntar se o homem já esteve desligado alguma vez de Deus para ser religado a ele, pois só se religa o que já esteve algum dia ligado e agora está desligado. No meu entender, esse entendimento de religar o homem a Deus também é um tanto religiosa no sentido tradicional de religião. É preciso recorrermos ao conceito de Deus que o espiritismo dá para vermos que é impossivel se desligar de Deus: causa primária de todas as coisas (e todas as coisas inclui a nós, não?)

//Jorge Murta/// pesquisa que fiz do livro "O Laço e o Culto", de Krishnamurti C. Dias, do qual retirei trechos que reproduzi nesse topico, para demonstrar o "Porque Não Considerar o Espiritismo Como Religião", totalmente baseado, por sua vez, em obras de Kardec.

Afinal, este Blog é sobre o que? - Post 126

Um amigo me perguntou ao ler algumas postagens deste Blog: -Afinal, Gui, este Blog é sobre que determinado assunto?
-Ele fala sobre UFOS, fala sobre vida em outros planetas, sobre Ciência, sobre moral, sobre Espiritismo, sobre evolução, sobre Filosofia ... 

Não pensei muito para responder. 
Ele fala sobre a Verdade e, a Verdade é o "todo de verdade"; o homem separa as verdades  à seus gostos e lhes imputam suas conveniências e interesses. A Verdade interage com   a verdade e, de forma sinérgica, apresenta a verdade; sem dogmas, fábulas, misticismos, religiões de convenieências ou interesses de dominações e preconceitos. O homem precisa se livrar do Deus elaborado por um antropomorfismo, rebaixando-O à sua condição e com Ele interagindo em questões de proveito próprio. Não existem escolhidos ou eleitos; todos somos iguais e com as mesmas possibilidades. Impor crenças é absurdo. A evolução oferece, pela racionalidade, a libertação. 


Esclarecendo- Livro dos Espíritos - off


172 Nossas diferentes existências corporais se passam todas na Terra?
– Não, nem todas, mas em diferentes mundos. As que passamos na Terra não são nem as primeiras nem as últimas, embora sejam das mais materiais e mais distantes da perfeição.
173 A alma, a cada nova existência corporal, passa de um mundo para outro ou pode ter várias existências num mesmo globo?
– Ela pode reviver diversas vezes num mesmo globo, se não for suficientemente avançada para passar a um mundo superior.
173 a Desse modo, podemos reaparecer muitas vezes na Terra?
– Certamente.
173 b Podemos voltar à Terra após ter vivido em outros mundos?
– Seguramente. Já vivestes em outros mundos além da Terra.
174 Voltar a viver na Terra é uma necessidade?
– Não; mas se não avançardes, podereis ir para um outro mundo que não seja melhor e que pode até ser  pior.
175 Existe alguma vantagem em voltar a habitar a Terra?
– Nenhuma vantagem em particular, a menos que se esteja em missão. Nesse caso se progride aí como em qualquer outro mundo.
175 a Não seria melhor permanecer como Espírito?
– Não, não. Seria permanecer estacionário, e o que se quer é avançar para Deus.
176 Os Espíritos, após terem encarnado em outros mundos, podem encarnar neste, sem nunca terem passado por aqui?
– Sim, como vós em outros mundos. Todos os mundos são solidários:o que não se cumpre em um se cumpre em outro.
176 a Desse modo, há homens que estão na Terra pela primeira vez?
– Há muitos e em diversos graus.
176 b Pode-se reconhecer por um sinal qualquer quando um Espírito está pela primeira vez na Terra?
– Isso não teria nenhuma utilidade.
177 Para chegar à perfeição e à felicidade suprema, que são o objetivo final de todos os homens, o Espírito deve passar por todos os mundos que existem no universo?
– Não. Há muitos mundos que estão num mesmo grau da escala evolutiva e onde o Espírito não aprenderia nada de novo.
177 a Como então explicar a pluralidade dessas existências num mesmo globo?
– O Espírito pode aí se encontrar a cada vez em posições bem diferentes, que são para ele outras ocasiões de adquirir experiência.
178 Os Espíritos podem encarnar corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram?
– Sim, se for para cumprir uma missão e ajudar no progresso. Aceitam com alegria as dificuldades dessa existência, porque lhes oferecem um meio de avançar.
178 a Isso não pode ocorrer por expiação? Deus não pode enviar Espíritos rebeldes para mundos inferiores?
– Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas não regridem. Quando estacionam, sua punição é não avançar e ter de recomeçar as existências mal-empregadas num meio conveniente à sua natureza.
178 b Quais são aqueles que devem recomeçar a mesma existência?
– Os que falharam em sua missão ou em suas provações.
179 Os seres que habitam cada mundo atingiram um mesmo grau de perfeição?
– Não, é como na Terra: há seres mais avançados e menos avançados.
180 Ao passar deste mundo para um outro, o Espírito conserva a inteligência que tinha aqui?
– Sem dúvida, a inteligência não se perde, mas pode não ter os mesmos meios de manifestá-la; isso depende de sua superioridade e das condições do corpo que vai tomar. (Veja “Influência do organismo”, Parte Segunda, cap. 7).
181 Os seres que habitam os diferentes mundos possuem corpo semelhante aos nosso?
– Sem dúvida possuem corpo, porque é preciso que o Espírito esteja revestido de matéria para agir sobre a matéria. Porém, esse corpo é mais ou menos material, de acordo com o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. E é isso que diferencia os mundos que devem percorrer; porque há muitas moradas na casa de nosso Pai e, portanto, muitos graus. Alguns o sabem e têm consciência disso na Terra; outros não sabem nada.
182 Podemos conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?
– Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos encontrais. Portanto, não devemos revelar essas coisas a todos, visto que nem todos terão alcance de compreendê-las, e isso os perturbaria.
 À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. A matéria torna-se menos densa, ele não mais se arrasta em sofrimento pela superfície do solo, as necessidades físicas são menos grosseiras e os seres vivos não têm mais necessidade de se destruírem mutuamente para se alimentar. O Espírito é mais livre e, para atingir coisas distantes, tem percepções que nos são desconhecidas. Ele vê pelos olhos do corpo o que apenas pelo pensamento podemos imaginar.
A purificação dos Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As paixões brutais se enfraquecem e o egoísmo dá lugar a um sentimento fraternal. É desse modo que, nos mundos superiores à Terra, as guerras são desconhecidas, os ódios e as discórdias não têm motivo, porque ninguém pensa em fazer o mal a seu semelhante. A intuição que têm do futuro, a segurança que uma consciência livre de remorsos lhes dá, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão, por isso a encaram sem temor e a compreendem como uma simples transformação.
A duração da vida nos diferentes mundos parece ser proporcional ao grau de superioridade física e moral desses mundos, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material é o corpo, menos está sujeito às alternâncias e instabilidades que o desorganizam. Quanto mais puro é o Espírito, mais livre das paixões que o destroem. Esse é ainda um benefício da Providência que, desse modo, abrevia os sofrimentos.
183 Ao ir de um mundo para outro, o Espírito passa por uma nova infância?
– A infância é em todos os lugares uma transição necessária, mas não é tão frágil em todos os lugares como entre vós, na Terra.
184 O Espírito pode escolher o novo mundo que vai habitar?
– Nem sempre, mas pode pedir e conseguir isso se o merecer; porque os mundos são acessíveis aos Espíritos de acordo com seu grau de elevação.
184 a Se o Espírito não pede nada, o que determina o mundo em que deve reencarnar?
– O grau de sua elevação.
185 O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada globo?
– Não; os mundos estão também submetidos à lei do progresso2. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a própria Terra passará por uma transformação semelhante. Ela será um paraíso quando os homens se tornarem bons.
 É assim que as raças que hoje povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres cada vez mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão às atuais, como as atuais sucederam a outras ainda mais atrasadas.
186 Há mundos em que o Espírito, deixando de habitar um corpo material, tem apenas como envoltório o perispírito?
– Sim, há. Nesses mundos até mesmo esse envoltório, o perispírito, torna-se tão etéreo que para vós é como se não existisse. É o estado dos Espíritos puros.
186 a Disso parece resultar que não há uma demarcação definida entre o estado das últimas encarnações e o de Espírito puro?
– Essa demarcação não existe. A diferença nesse caso se desfaz pouco a pouco, torna-se imperceptível, assim como a noite se desfaz diante dos primeiros clarões da alvorada.
187-A substância do perispírito é a mesma em todos os globos?                                                          Não; é mais ou menos etérea. Ao passar de um mundo para outro, o Espírito se reveste instantaneamente da 
 matéria própria de cada um deles, com a rapidez de um relâmpago.
188 Os Espíritos puros habitam mundos especiais, ou estão no espaço universal, sem estar ligados mais a um mundo do que a outro?
– Os Espíritos puros habitam determinados mundos, mas não estão restritos a eles como os homens estão à Terra; eles podem, melhor do que os outros, estar em todos os lugares.
 De acordo com o ensinamento dos Espíritos, de todos os globos que compõem o nosso sistema planetário, a Terra é onde os habitantes são menos avançados, tanto física quanto moralmente. Marte ainda estaria inferior, e Júpiter muito superior em todos os sentidos. O Sol não seria um mundo habitado por seres corporais, e sim um lugar de encontro de Espíritos superiores que, de lá, irradiam seus pensamentos para outros mundos, que dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados, transmitindo-os a eles por meio do fluido universal. Como constituição física, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os sóis parecem estar numa posição idêntica.
O volume e a distância que estão do Sol não têm nenhuma relação necessária com o grau de adiantamento dos mundos, pois parece que Vênus é mais avançado que a Terra, e Saturno menos que Júpiter.
Muitos Espíritos que na Terra animaram pessoas conhecidas disseram estar encarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição, e é admirável ver, nesse globo tão avançado, homens que, na opinião geral que fazemos deles, não eram reconhecidos como tão elevados. Isso não deve causar admiração, se considerarmos que alguns Espíritos que habitam Júpiter podem ter sido enviados à Terra para cumprir uma missão que, aos nossos olhos, não os colocava em primeiro plano; que, entre sua existência terrestre e a de Júpiter, podem ter tido outras intermediárias, nas quais se melhoraram. E, finalmente, que nesse mundo, como no nosso, há diferentes graus de desenvolvimento, e que entre esses graus pode haver a mesma distância como a que separa entre nós o selvagem do homem civilizado. Desse modo, o fato de habitarem Júpiter não quer dizer que estão no mesmo padrão dos seres mais avançados de lá, da mesma forma que não se está no mesmo padrão de um sábio da Universidade só porque se reside em Paris.
As condições de longevidade não são também as mesmas que na Terra, e por isso não se pode comparar a idade. Um Espírito evocado, desencarnado há alguns anos, disse estar encarnado há seis meses num mundo cujo nome nos é desconhecido. Interrogado sobre a idade que tinha nesse mundo, respondeu: “Não posso avaliá-la, porque não contamos o tempo como vós; além do mais, o modo de vida não é o mesmo; desenvolvemo-nos lá com muito mais rapidez; embora não faça mais que seis dos vossos meses que lá estou, posso dizer que, quanto à inteligência, tenho trinta anos da idade que tive na Terra”.
Muitas respostas semelhantes nos foram dadas por outros Espíritos, e isso nada tem de inacreditável. Não vemos na Terra um grande número de animais adquirir em poucos meses seu desenvolvimento normal? Por que não poderia ocorrer o mesmo com os habitantes de outras esferas? Notemos, por outro lado, que o desenvolvimento adquirido pelo homem na Terra, na idade de trinta anos, pode ser apenas uma espécie de infância, comparado ao que deve alcançar. Bem curto de vista se revela quem nos toma em tudo por protótipos da criação, e é rebaixar a Divindade crer que, fora o homem, nada mais é possível a Deus (N. K.).

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Agradável visita - LHC -Post 125

Há dias não tinha a companhia de Uitonius.
Postei algumas coisas que pareciam ser conceitos de tudo o que havia aprendido. 

Quando tiramos as coisas de nós mesmos, tudo se torna mais difícil; buscar nas lembranças ou, simplesmente escrever o que nos ditam, é mais fácil.

Ontem foi um dia daqueles em que me sentia abandonado. Eu, frente à frente com as minhas limitações.

Após assistir ao futebol pela TV, resolvi ir dormir. Todos já dormiam!
Fui tomar um copo d'água na cozinha e percebi a presença de Belmont; meu amigo de minhas aventuras na Segurança.

Alegrei-me e percebi que não estava só.Fazia se acompanhar de alguém que eu desconhecia.

Sem perder tempo, ele foi dizendo-me, mentalmente:
-Gui, estou com M, nosso amigo e instrutor. Você não o conheceu, pois ele vive em eterno vai e vem, levando a luz da ciência onde esta se faça necessário e os anseios evolucionais requisitem.

Pude, então perceber, em figura mental que se formou, a silhueta daquele ser. Apresentava-se com um terno escuro; era claro, cabelos pretos e bigode bem aparado.

-Estamos a caminho de Genebra em uma pequena nave e, atendendo a um pedido de Uitonius e para a nossa satisfação, resolvemos deixar nossos corpos no pequeno veículo e vir te abraçar, mesmo em "sentimento", apenas, em nossos corpos fluídicos (perispírito).

Eu sorri contente. Mas o que eles fariam em Genebra?

-Gui, M, foi até 1960, M v L , um físico alemão de porte intelectual e científico ímpar; tão logo desencarnou na Terra, encarnou-se em Júpiter para dar continuidade ao trabalho que já vinha elaborando em estados de desdobramentos. Estamos acompanhando o querido amigo que tem se dedicado às pesquisas e orientações aos cientistas que operam junto ao Grande Colisor de Hádrons na fronteira franco-suíça..

M, eu senti, sorriu-me de forma singular. 
Falou-me do grande passo que a Ciência da Terra iniciara com as pesquisas e sentir as primeiras possibilidades de estar frente aos fluidos imponderáveis. Mas o evento apenas iniciara e, a própria  espectroscopia de radiação baseada na cristalografia lhes ofereceria a co-relação  das energias em todas suas formas; até mesmo da desconhecida Matéria Escura e Energia Escura. E nisso ele era um entendido desde os tempos que iniciara na Terra, sobre isso pesquisar.

-M está feliz pois conseguiu, de uma só vez, reunir suas maiores paixões: A velocidade que nossas naves desenvolvem, o ambiente das montanhas e a Ciência. 

Rimos todos.

A visita  pareceu renovar-me os ânimos. Continuava sendo lembrado e amado por aqueles amigos que o destino me presenteara. 

Os dois não se demoraram. A visita era apenas para que eu não esquecesse que não estava só.

Naquela noite dormi tranquilo e meu corpo fluídico (perispírito) bailou frente a Lua que sem o brilho do Sol, pelo eclipse, rogava, como eu, uma companhia.