T R A N S I ÇÃO

T R A N S I ÇÃO
Uitonius, um amigo de Júpiter.

sábado, 25 de junho de 2011

Regeneração - off

Regeneração da Humanidade
(Resumo das comunicações dadas pelas Sras. M... e T... em estado sonambúlico)
Paris, 25 de abril de 1866
(Obras Póstumas - Minha primeira iniciação no Espiritismo)

Precipitam-se com rapidez os acontecimentos, pelo que já não vos dizemos, como outrora: “Aproximam-se os tempos.” Agora, dizemos: “Os tempos são chegados.” Não suponhais que as nossas palavras se referem a um novo dilúvio, nem a um cataclismo, nem a um revolvimento geral. Revoluções parciais do globo se hão produzido em todas as épocas e ainda se produzem, porque decorrem da sua constituição, mas não representam os sinais dos tempos.

Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho tem de cumprir-se e neste momento se cumpre, conforme o reconhecereis mais tarde . Não tomeis, porém, os sinais anunciados, senão como figuras, que precisam ser compreendidas segundo o espírito e não segundo a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria e, por se terem apegado à letra, é que os comentadores se transviaram. Faltou-lhes a chave para lhes compreenderem o verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo vem revelar. Daqui em diante, com o auxílio desses novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.

Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não vereis milagres, nem prodígios, nem fatos sobrenaturais, no sentido vulgarmente dado a essas palavras.

Não olheis para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum vereis, e os que vo-los anunciarem estarão a enganar-vos. Olhai em torno de vós, entre os homens: aí é que os descobrireis.

Não sentis que um como vento sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que a tempestade se aproxima.

Não acrediteis, porém, no fim do mundo material. A Terra tem progredido, desde a sua transformação; tem ainda que progredir e não que ser destruída. A Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.

O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

De mundo de expiação, a Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será uma recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem sucederá ao reinado do mal.

Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso se faz que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que unicamente ao bem aspirem. Como já chegou esse tempo, uma grande emigração neste momento se opera entre os que a habitam. Os que praticam o mal pelo mal, alheios ao sentimento do bem, dela se verão excluídos, porque lhe acarretariam novamente perturbações e confusões que constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o seu endurecimento em mundos inferiores, aos quais levarão os conhecimentos que adquiriram, tendo por missão fazê-los adiantar-se. Substituí-los-ão na Terra Espíritos melhores que farão reinem entre si a justiça, a paz, a fraternidade.

A Terra, dissemo-lo, não será transformada por um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança na ordem natural das coisas. Tudo, pois, exteriormente, se passará como de costume, com uma única diferença, embora capital: a de que uma parte dos Espíritos que nela encarnam não mais encarnarão. Em cada criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e propenso ao mal, encarnará um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Trata-se, portanto, muito menos de uma nova geração corporal, do que de uma nova geração de Espíritos. Assim, desapontados ficarão os que contem que a transformação resulte de efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

A época atual é a da transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermédio, assistis à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já se assinala no mundo pelos caracteres que lhe são próprios.

As duas gerações que sucedem uma à outra têm idéias e modos de ver inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo pelas disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir à qual das duas pertence cada indivíduo.

Tendo de fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão-só de Espíritos eminentemente superiores, mas de Espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, primeiramente, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de qualquer poder acima da Humanidade; depois, pela propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternais do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância de apego a tudo o que é material.

Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que recalcitram em emendar-se, visto que são incompatíveis com o reino da fraternidade e os homens de bem sofreriam sempre com o contacto dessas criaturas. Livre deles a Terra, os outros caminharão desembaraçadamente para o futuro melhor, que lhes está reservado neste mundo, em recompensa de seus esforços e da sua perseverança, enquanto uma depuração ainda mais completa não lhes abre o pórtico dos mundos superiores.

Com referência a essa emigração de Espíritos, ninguém pretenda que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores. Muitos, ao contrário, aí hão de voltar, porque muitos cederão ao império das circunstâncias e do exemplo; neles, a casca está mais estragada do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa da que as viam quando vivos, conforme os numerosos casos que já tendes apreciado. Para isso, terão a ajudá-los os Espíritos bons, que por eles se interessam e que se esforçam por esclarecê-los e por lhes mostrar que errado era o caminho que trilhavam. Pelas vossas preces e exortações, podeis contribuir muito para que se melhorem, porque há perpétua solidariedade entre os mortos e os vivos.

Aqueles, conseguintemente, poderão voltar e se sentirão felizes, porque isso lhes será uma recompensa. Que importa o que tenham sido e feito, se animados de melhores sentimentos se encontram? Longe de se mostrarem hostis à sociedade, serão seus auxiliares úteis, porquanto pertencerão à geração nova.

Não haverá, pois, exclusão definitiva, senão dos Espíritos substancialmente rebeldes, daqueles que o orgulho e o egoísmo, mais do que a ignorância, tornaram surdos aos apelos do bem e da razão. Esses mesmos, porém, não estarão votados a perene inferioridade. Dia virá em que repudiarão o passado e abrirão os olhos para a luz.

Assim, orai por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto ainda é tempo, visto que se aproxima o dia da expiação.

Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá na sua cegueira e a resistência que virá a opor mascarará, por meio de terríveis lutas, o fim do reinado dos que a constituem. Desvairados, correrão à sua própria perda; provocarão destruições que darão origem a um sem-número de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era de renovação.

E, como se não se operasse com bastante rapidez a destruição, os suicídios se multiplicarão em proporções inauditas, até entre as crianças. A loucura jamais terá atingido tão grande quantidade de homens que, antes mesmo de morrerem, estarão riscados do número dos vivos. São esses os verdadeiros sinais dos tempos e tudo isso se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como já o dissemos, sem que haja a mais ligeira derrogação das leis da Natureza.

Contudo, através da escura nuvem que vos envolve e em cujo seio ronca a tempestade, já podeis ver despontando os primeiros raios da era nova. A fraternidade lança seus fundamentos em todos os pontos do globo e os povos estendem uns aos outros as mãos; a barbárie se familiariza no contacto com a civilização; os preconceitos de raças e de seitas, que causaram o derramamento de ondas de sangue, se vão extinguindo; o fanatismo, a intolerância perdem terreno, ao passo que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito  Por toda parte fermentam as idéias; percebe-se o mal e experimentam-se remédios para debelá-lo, mas muitos caminham sem bússola e se perdem em utopias. O mundo se acha empenhado num imenso trabalho de gestação que já dura há um século; nesse trabalho, ainda confuso, nota-se, todavia, que predomina a tendência para determinado fim: o da unidade e da uniformidade, que predispõem à confraternização.

Também aí tendes sinais dos tempos. Mas, enquanto que os outros são os das agonias do passado, estes últimos são os primeiros vagidos da criança que nasce, os precursores da aurora que o próximo século verá despontar, pois que então a geração nova estará em toda a sua pujança. Tanto a fisionomia do século dezenove difere da do décimo oitavo, sob certos pontos de vista, quanto a do vigésimo diferirá da do século dezenove, sob outros pontos de vista.

A fé inata será um dos caracteres distintivos da nova geração, não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortifica, que os une e confunde num sentimento comum de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

O Espiritismo é a senda que conduz à renovação, porque destrói os dois maiores obstáculos que se opõem a essa renovação: a incredulidade e o fanatismo  porque faculta uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as idéias que correspondem aos modos de ver da nova geração, pelo que, no coração dos representantes desta, ele se achará inato e em estado de intuição. Assim, pois, a era nova vê-lo-á engrandecer-se e prosperar pela força mesma das coisas. Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

Mas, daqui até lá, que de lutas terá ainda de sustentar contra os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que — coisa singular! — se dão as mãos para abatê-lo. É que os dois lhe pressentem o futuro e, em conseqüência, a ruína de ambos. Essa a razão por que o temem; já o vêem erguendo, sobre os destroços do velho mundo egoísta, a bandeira em torno da qual se reunirão todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade não há salvação, eles lêem a sua própria condenação, porquanto essa máxima é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes apresenta como as palavras fatais do festim de Baltazar  Entretanto, deveriam bendizer essa máxima, porquanto os defende de todas as represálias da parte dos que os perseguem. Tal, porém, não se dá: uma força cega os impele a rejeitar a única coisa capaz de salvá-los.

Que poderão contra o ascendente da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, ficai certos, porquanto ele está nas leis da Natureza, não podendo, por isso mesmo, perecer. Observai a multiplicidade de meios por que a idéia se espalha e penetra em toda parte; crede que esses meios não são fortuitos, mas providenciais. O que, à primeira vista, devera ser-lhe prejudicial é exatamente o que lhe auxilia a propagação.

Dentro em breve, surgirão campeões que em voz alta se proclamarão tais, entre os de maior consideração e mais acreditados, os quais, com a autoridade de seus nomes e de seus exemplos o apoiarão, impondo silêncio aos que o detratem, pois ninguém ousará tratá-los de loucos. Esses homens o estudam em silêncio e aparecerão quando for chegado o momento oportuno. Até lá, bom é se conservem afastados.

Dentro em pouco, também vereis as artes se acercarem dele, como de uma mina riquíssima, e traduzirem os pensamentos e os horizontes que ele patenteia, por meio da pintura, da música, da poesia e da literatura. Já se vos disse que haverá um dia a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã. É uma grande verdade, pois os maiores gênios se inspirarão nele. Em breve, vereis os primeiros esboços da arte espírita, que mais tarde ocupará o lugar que lhe compete.
Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e devotados. Não vos assustem os obstáculos, porquanto nenhum há que possa embaraçar os desígnios da Providência. Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus o ter-vos colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos solicitastes e do qual é preciso vos mostreis dignos pela vossa coragem, pela vossa perseverança e pelo vosso devotamento. Felizes dos que sucumbirem nessa luta contra a força; a vergonha, ao contrário, esperará, no mundo dos Espíritos, os que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contacto com o mal faz que melhor se apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se entregaria a uma despreocupação funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais.


Fonte:
1. KARDEC, A. Obras Póstumas, Minha primeira iniciação no Espiritismo.
2. BOURDIN, A. Entre Dois Mundos, cap. VII, págs. 35 a 37.

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Quando o culto de Deus é o primeiro conceito supremo a que alguém subordina os seus deveres e, por conseguinte, a ele se submete a virtude, então este objeto é um ídolo, ou seja, Deus é concebido como um ser a quem podemos esperar agradar, não mediante um bom comportamento moral no mundo, mas pela adoração e adulação. Neste caso, a religião torna-se idolatria. (Immanuel Kant - Religião nos limites da simples razão, 1793) ´


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A ilusão, consistindo em acreditar que pelos atos religiosos do culto se pode fazer alguma coisa para a própria justificação perante Deus, é a superstição religiosa. De igual modo, o fanatismo religioso consiste na ilusão de atingir esse objetivo mediante o esforço para ter um pretenso comércio com Deus. Querer tornar-se agradável a Deus por atos que cada um pode realizar sem ser por isso um homem de bem (por exemplo, professando dogmas estatutários, conformando-se às observâncias e à disciplina da Igreja, etc.) é uma ilusão supersticiosa. Chama-se supersticiosa porque escolhe por si mesma simples meios naturais (em nada morais) que em si não podem de modo algum agir sobre o que não é da natureza (ou seja, o bem moral). (Immanuel Kant - Religião nos limites da simples razão, 1793)
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