T R A N S I ÇÃO

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Uitonius, um amigo de Júpiter.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Espiritismo e a Ciência - off


O Espiritismo é realmente uma Ciência?


Para uns, a questão parece estar definitivamente resolvida pela negativa. Como vêem o Espiritismo como mais uma variação do misticismo e do ocultismo, pensam que este se opõe ao positivismo da ciência. Que essa afirmação venha de materialistas obstinados, de fanáticos de outras religiões ou de pessoas que ignoram os fundamentos da doutrina espírita, é de se esperar. Mas o que não deveríamos esperar é que muitos dos que se dizem espíritas, muitas vezes até conhecedores de toda a obra de Kardec, tivessem esse tipo de dúvida. Esperamos com esse texto contribuir para a elucidação definitiva da questão, se não para o primeiro grupo, mas pelo menos para o segundo.

Um dos significados da palavra "ciência" é conhecimento. Mas para o conhecimento ser ciência, é preciso tratar-se de um conhecimento verdadeiro ou, como normalmente ocorre, pelo menos um conhecimento que pode ser verdadeiro. A partir do momento que determinado conhecimento é descoberto falso, deixa de ser conhecimento para tornar-se fábula, estória, mito.

Após essa análise preliminar, vamos analisar o caso espírita:  O Espiritismo se baseia, entre outras coisas, na existência dos espíritos e na sua relação com o mundo material. O simples fato de os espíritos existirem e o Espiritismo estudá-los com método próprio, já faz este tornar-se uma ciência, na completa acepção da palavra e não seria preciso dizer mais nada. Se, ao contrário, os espíritos não existissem, o Espiritismo não só não seria uma ciência, como também não seria filosofia nem tampouco religião. Seria apenas uma falácia bem estruturada, como muitas de que temos conhecimento. Portanto, a solução da questão se o Espiritismo é ou não uma ciência, reside na resposta da questão: existem ou não espíritos?

Ao redor do mundo, em todos os povos, em todos os tempos, em todas as culturas, podemos encontrar relatos de pessoas que mantiveram contatos com seres que poderiam ser enquadrados no conceito espírita de "Espírito". Na atualidade, temos diversos médiuns ativos atuando e escrevendo milhares de livros que eles afirmam terem sido ditados por espíritos.

De todos esses relatos, decerto, não podemos considerar tudo verdadeiro. Com certeza, encontraremos muita ilusão, alucinação e charlatanismo. Mas será que em nenhum caso poderíamos encontrar boa-fé e lucidez? Será que podemos considerar todos os relatos falsos, inclusive os que foram testemunhados por várias pessoas?  Será que as mesas girantes, que se deram por toda a Europa por mais de 5 anos ininterruptos e estão registrados em vários jornais da época, eram todas fruto de ilusão e charlatanismo coletivo? Desses milhões de relatos, se um único contiver uma informação verdadeira, a existência dos espíritos estaria positivamente e irrefutavelmente comprovada. Quando tratamos da mediunidade paga, é fácil desconfiarmos do charlatanismo. Mas e quando são pessoas dignas de fé que nos relatam? E quando são considerados sábios? Numa pesquisa recentemente realizada em 2004 com 115 médiuns ativos em São Paulo, quase a metade (45,5%) possuía pelo menos o curso superior; e mais de 74% pelo menos o segundo grau; todos eles levam uma vida normal, com atividades normais e praticam a mediunidade em momentos de folga (1). Toda essa gente é iludida? Toda essa gente é alucinada? Toda essa gente é charlatã?

Uma recente estatística da Federação Espírita Brasileira (2) mostra que existem aproximadamente 10.000 centros afiliados à instituição. Sabemos que os centros normalmente possuem pelo menos 1 médium ativo. Além dos associados à Federação Espírita Brasileira existem vários outros centros que, por motivos diversos, decidiram não se afiliar à instituição, mas que também cada qual possui pelo menos 1 médium ativo.  Todos eles afirmam manter contatos com seres que se autodenominam "espíritos".  Será que 100% desses médiuns mentem? A troco de que, se a maioria trabalha voluntariamente, e muitas vezes com grandes sacrifícios? Volto a repetir que uma única verdade no meio disso tudo comprova o fato.

Portanto, vasta documentação existe e, baseada nela, já podemos considerar a existência espiritual um fato. E como o Espiritismo trata do estudo desse fato, ou seja, dessa verdade, o Espiritismo pode ser considerado ciência. A ciência dita oficial é que ainda não descobriu isso. Mas para aqueles que ainda assim duvidam, dizemos que a quantidade de relatos existentes produzem elementos mais do que suficientes para dúvida razoável. Ora, como com esses relatos podemos pelo menos considerar a existência dos espíritos uma hipótese válida, então o seu estudo e pesquisa pode igualmente ser considerado ciência. Aos materialistas, que parecem estar convictos do contrário, ou seja, da não existência dos espíritos, pediríamos que se esforçassem mais para nos provar isso positivamente e nos ajudar a abrir os olhos, levando o Espiritismo de uma vez por todas para o domínio das fábulas. Temos certeza de que quem se lançar nesta busca, neste objetivo, vai encontrar as convicções de que necessita.

No dicionário (3), encontramos também a seguinte definição para ciência:

"Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio."

Ora, o Espiritismo é um conjuto organizado de conhecimentos (a codificação espírita) relativos a um determinado objeto (os espíritos e suas relações com o mundo material), especialmente os obtidos mediante a observação (dos fenômenos espontâneos e dos provocados, como as mesas girantes e as psicografias), a experiência dos fatos (pela identificação das características comuns a todos os eventos) e um método próprio (como os descritos em O Livro dos Médiuns). Mais uma vez, a dificuldade da questão reside no "objeto", que já discutimos acima. Atestada a realidade do "objeto", o Espiritismo torna-se automaticamente uma ciência na acepção completa da palavra, gritem o quanto quiserem os seus opositores.

Também no mesmo dicionário encontramos os diversos ramos da ciência: Ciências Exatas (a matemática); Ciências Experimentais (aquelas cujo método exige o recurso da experimentação); Ciências Humanas (as que estudam o comportamento do homem individual ou coletivamente); Ciências Morais (as que estudam os sentimentos, pensamentos e atos do homem), etc...

O Espiritismo não pode, certamente, ser considerado uma ciência exata. Mas é, definitivamente, uma ciência experimental, humana e moral, embora essas os materialistas afirmem que, em última instância, não existem de fato e que podem ser reduzidas às ciências exatas. Dizem que o determinismo da genética, criado pelo indeterminismo do acaso, é capaz de prever quando vamos nos irritar, nos sentir felizes, prejudicar alguém, roubar um banco, etc... Fazem de conta que a realidade metafísica não existe, quando esta salta aos olhos dos menos clarividentes, e descartam uma parte da realidade simplesmente por não conseguirem modelá-la e circunscrevê-la com se faz com formulações químicas comuns. E são esses cegos voluntários que comumente chamamos, impropriamente, de "sábios". Acham que porque já sabem explicar meia dúzia de mecanismos físicos já são igualmente capazes de explicar toda a natureza e o universo. Orgulho disfarçado de sabedoria, que não consegue admitir que a partir de certo ponto ainda não se é capaz de afirmar nada, mas só imperfeitamente opinar, e que suas opiniões não valem mais do que as outras.

Como a ciência oficial ainda é, em grande parte, constituída por esses "sábios", não podemos esperar, pelo menos por hora, que a realidade espiritual e metafísica sejam aceitas pela comunidade científica. Já nos sentimos bastante felizes que uma parte significativa dos cientistas já se predispôs a analisar o problema, embora infelizmente acabem caindo em descrédito por dar ouvidos a "lunáticos" e "charlatães". É só mais um caso onde a crença cega (neste caso, a descrença) tem levado a melhor sobre a razão, a lógica e os fatos. Mas o futuro desponta e nos acena que esta realidade está para se modificar em breve.

Quanto a nós, espíritas, façamos o nosso trabalho de esclarecimento, sem pressa nem exaltação para querer convencer a Deus e ao mundo, pois, afinal de contas, o cego que se recusa a abrir os olhos só prejudica a si mesmo. Nosso trabalho resume-se a fornecer elementos de pesquisa para aqueles que realmente querem abrir os olhos e desenvolverem os "olhos de ver".


Rafael Gasparini Moreira
Paulínia/SP
e-mail: rafael.gasparini@gmail.com
set/2007 (revisado out/2007).


Fontes Bibliográficas:
(1)   Fonte: Tese apresentada em 2004 ao Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências por Alexander Moreira de Almeida, sob o título: Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas. Pág. 65.
(3)   Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2a edição revista e aumentada, 1986 - 36a edição - Editora Nova Fronteira.

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