Uitonius me chamava.
Recebi, mentalmente, o recado. Ele estava na ala de projeções.
Fui ao seu encontro.
-Meu querido Gui, me desculpe por não ter te dado a atenção que mereces; bem sabes o esforço que estamos fazendo para que o tempo não represente um empecilho às nossas providências.
-Apontando uma poltrona me convidou a sentar-me.
Um donuto que sempre o servia lhe trouxe uma espécie de chá; fumegava e tinha tonalidade amarelada. Ele saboreou-o.
-Não te ofereço para que me acompanhes pois sei que, por aqui, tua condição te torna abstêmio. E riu. Mas prometo que te enviarei uma amostra deste chá para que o saboreies na Terra. Estas folhas são cultivadas em Vênus. São muito apreciadas por todos nós. Um colaborador encarnado fará chegar as tuas mãos, muito em breve.
-Bem, começou a falar vagarosamente, não sei se imaginas sobre que assunto quero te falar, mas acredito que saibas.
-Se você não leu meus pensamentos ...
Ele riu e acrescentou: -Qualquer hora vou te ensinar que o feches às leituras. Só terão acesso ao que pensas quando o permitires.
-Ensina-me já!
-É fácil; questão de treino e de hábito. Teus pensamentos são secretos, ou deveriam ser. Revelá-los somente quando estiveres direcionando-o para alguém, como em uma conversa. Basta que penses para dentro. Pensamentos introspectivos. Pensar para si sem se preocupar com técnicas. É, tal qual as palavras. Escutam-as, ou porque falas dirigindo-se a alguém ou porque falas alto e todos as escutam. Com os pensamentos é a mesma coisa. Ou os dirige a alguém ou à um grupo ou pensas de forma desordenada, espalhando-o à todos os cantos.Esforça-te em dirigi-lo e o destinatário o receberá. Treina e logo estarás fazendo-o, inconscientemente.
-O pensamento é tal qual uma evocação. Deve dirigir-se ao evocado.
-Se não evocas ou dirige-o, ele se espalha e fica à mercê de quem o busque ou dele se aproveite.
-Então, posto o exposto, deduzo que tu sabes porque roguei tua presença uma vez que abri meus pensamentos a ti.
-Sim Uitonius, queres me falar sobre o pedido que queria te fazer sobre reencarnar ao lado de Fúlvia, não é?
-Meu querido Gui, permita-me algumas considerações: Fúlvia foi notificada do atendimento de suas aspirações, junto ao povo africano, por missão e por amor. Não há resgate que seja impetrado nesta resolução pessoal. Esta encarnação, apenas aguardava o momento certo de ocorrer, e, este momento chegou com a transição. Louvo teus sentimentos nobres em relação ao processo afetivo, puro e sincero, mas devo te dizer que temos outros planos para você. Ninguém está obrigado a nada que não queira fazer, outrossim, a Providência viu grandes possibilidades de que sejas, em uma próxima encarnação, um porta voz que, no campo da literatura, levarás ao mundo, verdades que se fazem necessárias divulgar.
-E vocês não se apartarão de forma permanente. Poderão conviver a harmonia e felicidade de reencontros quando libertos do corpo físico por ocasião do descanso noturno.
-Quer dizer-me que já existe um plano para minha próxima encarnação?
-Gui, ninguém é eterno na carne. Somente no Espírito. Você já atingiu uma idade que poderíamos classificar de "inverno da vida" e, estás à porta da única fatalidade real, o instante da morte. Terás o tempo de terminar esta tarefa, acomodar a tua situação familiar e partir consciente para novas e importantes oportunidades. Não vaticino teu desencarne imediato, mas tenho plena convicção de que encaras a morte como uma simples transformação. Diria até, de uma libertação.
Uitonius fora claro e objetivo. Ele me conhecia e sabia, muito bem que a morte, para mim não significava mais do que uma passagem de uma à outra forma. Jamais a temi. Ele estava, novamente certo, afinal, ... me conhecia!
Agradeci as palavras e o incentivo e entendi os motivos que me impediriam de seguir com Fúlvia.
E, confesso, fiquei entusiasmado com os projetos da minha futura encarnação.
-Nos veremos ainda, meu querido Gui. Aproveite a estada.
-Obrigado Uitonius ... por tudo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário