T R A N S I ÇÃO

T R A N S I ÇÃO
Uitonius, um amigo de Júpiter.

domingo, 25 de setembro de 2011

Intervenção dos Espíritos ... - A quem interessar- Estudo - OFF

Afeição dos Espíritos por certas pessoas

484 Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?
– Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem ou passíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que possam vir a sê-lo; daí sua afeição por causa da semelhança dos sentimentos.
485 A afeição dos Espíritos por algumas pessoas é exclusivamente moral?
– A afeição verdadeira não tem nada de carnal; mas, quando um Espírito se liga a uma pessoa, nem sempre é só por afeição, pode haver lembranças das paixões humanas.
486 Os Espíritos se interessam por nossa infelicidade e nossa prosperidade? Aqueles que nos querem bem se afligem com os males que passamos na vida?
– Os bons Espíritos fazem o bem tanto quanto lhes é possível e ficam felizes com todas as vossas alegrias. Afligem-se com os vossos males quando não os suportais com resignação, porque nenhum resultado benéfico trazem para vós; sois, então, como o doente que rejeita o remédio amargo que deve curá-lo.
487 De que mal os Espíritos se afligem mais por nós: o físico ou o moral?
– Do vosso egoísmo e dureza de coração: daí deriva tudo. Eles se riem de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição e se alegram com aqueles que servem para abreviar vosso tempo de prova.

  1.  Os Espíritos, sabendo que a nossa vida corporal é apenas transitória e que angústias são meios de chegar a um estado melhor, se afligem mais pelas causas morais que nos distanciam deles do que pelas físicas, que são apenas passageiras.

Os Espíritos não se prendem muito às infelicidades que afetam apenas nossas idéias mundanas, assim como fazemos com os desgostos infantis das crianças.
Os Espíritos que vêem nas aflições da vida um meio de adiantamento para nós as consideram como a crise momentânea que deve salvar o doente. Compadecem-se com os nossos sofrimentos como nos compadecemos com os de um amigo. Mas, vendo as coisas como vêem, de um ponto de vista mais justo, as apreciam de outro modo, e enquanto os bons estimulam nossa coragem no interesse de nosso futuro, os maus nos incitam ao desespero com o propósito de nos comprometer.
488 Os parentes e amigos, que nos precederam na vida espiritual, têm por nós mais simpatia do que os Espíritos estranhos?
– Sem dúvida, e muitas vezes vos protegem como Espíritos, conforme tenham poder para tanto.
488 a São sensíveis à afeição que nós lhes devotamos?
– Muito sensíveis, mas esquecem aqueles que os esquecem.

Anjos de guarda; Espíritos protetores, familiares ou simpáticos

489 Há Espíritos que se ligam a um indivíduo em particular para protegê-lo?
– Sim, o irmão espiritual; é o que chamais de bom Espírito ou bom gênio.
490 O que se deve entender por anjo de guarda?
– O Espírito protetor de uma ordem elevada.
491 Qual é a missão do Espírito protetor?
– A de um pai para com seus filhos: conduzir seu protegido ao bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolá-lo em suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.
492 O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento?
– Desde o nascimento até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.
493 A missão do Espírito protetor é voluntária ou obrigatória?
– O Espírito é obrigado a velar por vós, se aceitou essa tarefa. Mas escolhe os seres que lhes são simpáticos. Para uns é um prazer; para outros, uma missão ou um dever.
493 a Ao se ligar a uma pessoa o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos?
– Não, mas não faz só isso, exclusivamente.
494 O Espírito protetor está inevitavelmente ligado à criatura confiada à sua guarda?
– Pode ocorrer que alguns Espíritos tenham que deixar sua posição para realizar diversas missões, mas nesse caso são substituídos.
495 O Espírito protetor abandona algumas vezes seu protegido quando este é rebelde aos seus conselhos?
– Ele se afasta quando vê que seus conselhos são inúteis e a vontade de aceitar a influência dos Espíritos inferiores é mais forte no seu protegido. Mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir; é, porém, o homem quem fecha os ouvidos. O protetor volta logo que seja chamado.
É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos de guarda. Pensar que se tem sempre perto de si seres superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e devotados que as mais íntimas ligações que se possa ter na Terra, não é uma idéia bem consoladora? Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus,que por amor os colocou perto de vós, cumprindo uma bela, embora difícil, missão. Sim, em qualquer lugar onde estiverdes estarão convosco: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de devassidão, na solidão, nada vos separa desses amigos que não podeis ver, mas de quem vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

  1. Deveríeis conhecer melhor essa verdade! Quantas vezes vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes vos salvaria dos maus Espíritos! Mas no dia decisivo, esse anjo do bem terá que vos dizer: “Não te disse isso? E tu não o fizeste. Não te mostrei o abismo? E tu aí te precipitaste. Não te fiz ouvir na tua consciência a voz da verdade? E não seguiste os conselhos da mentira?” Ah! Interrogai os vossos anjos de guarda; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes esconder nada, porque eles são os olhos de Deus e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro. Procurai avançar nessa vida e vossas provas serão mais curtas;vossas existências, mais felizes. Vamos, homens de coragem! Atirai para longe de vós de uma vez por todas os preconceitos e idéias retrógradas. Entrai no novo caminho que se abre diante de vós. Marchai! Marchai! Tendes guias, segui-os: o objetivo não pode vos faltar, porque esse objetivo é o próprio Deus.

Aos que pensam que é impossível para os Espíritos verdadeiramente elevados se sujeitarem a uma tarefa tão árdua e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas estando a milhões e milhões de quilômetros. Para nós o espaço não é nada e, embora vivendo em outro mundo, nossos Espíritos conservam sua ligação com o vosso. Nós podemos usar de faculdades que não podeis compreender, mas ficais certos de que Deus não nos impôs uma tarefa acima de nossas forças e não vos abandonou sozinhos na Terra sem amigos e sem apoio. Cada anjo de guarda tem seu protegido por quem vela, como um pai vela pelo seu filho. Fica feliz quando o vê no bom caminho; fica triste quando seus conselhos são desprezados.
Não temais nos cansar com vossas questões. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco: sereis mais fortes e felizes. São essas comunicações de cada homem com seu Espírito familiar que fazem de todos os homens médiuns, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e que se espalharão como um oceano sem limites para repelir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí os vossos irmãos; homens de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumprireis assim: é a do Cristo, a que Deus vos conferiu. Por que Deus vos deu a inteligência e a ciência, senão para as repartir com vossos irmãos, para fazê-los adiantarem-se no caminho da alegria e da felicidade eterna?
São Luís, Santo Agostinho

  •  A doutrina dos anjos de guarda, velando sobre seus protegidos apesar da distância que separa os mundos, não tem nada que deva surpreender; é, ao contrário, grande e sublime. Não vemos na Terra um pai velar pelo seu filho, embora esteja afastado dele, ajudá-lo com seus conselhos por correspondência? O que haveria, então, de espantoso em que os Espíritos pudessem guiar aqueles que tomam sob sua proteção, de um mundo a outro, uma vez que para eles a distância que separa os mundos é menor do que aquela que, na Terra, separa os continentes? Eles não dispõem, por outro lado, do fluido universal, que liga todos os mundos e os torna solidários, veículo magnífico da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o veículo da transmissão do som?

496 O Espírito que abandona seu protegido, não lhe fazendo mais o bem, pode lhe fazer o mal?
– Os bons Espíritos nunca fazem o mal; deixam que o façam os que tomam o seu lugar. Acusais, então, a sorte pelas infelicidades que vos acontecem, quando a culpa é vossa.
497 O Espírito protetor pode deixar seu protegido sob a dependência de um Espírito que poderia lhe querer o mal?
– Os maus Espíritos se unem para neutralizar a ação dos bons. Se o protegido quiser, receberá toda a força de seu bom Espírito. O bom Espírito encontra, em algum lugar, uma boa vontade para ajudar; aproveita-se disso enquanto espera retornar para junto do seu protegido.
498 Quando o Espírito protetor deixa seu protegido se transviar no caminho, é por sua incapacidade na luta contra outros Espíritos maldosos?
– Não. Não é porque ele não possa impedir, mas porque não quer. Isso faz seu protegido sair das provas mais perfeito e instruído; ele o assiste com seus conselhos, pelos bons pensamentos que lhe sugere, mas, infelizmente, nem sempre são escutados. Somente a fraqueza, a negligência ou orgulho do homem é que dão força aos maus Espíritos; o poder que têm sobre vós resulta de não lhes fazer resistência.
499 O Espírito protetor está constantemente com seu protegido? Não há nenhuma circunstância em que, sem abandoná-lo, o perca de vista?
– Há circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária junto de seu protegido.
500 Chega um momento em que o Espírito não tem mais necessidade de um anjo de guarda?
– Sim, quando atingiu um grau de poder conduzir-se a si mesmo, como chega o momento para o estudante em que não tem mais necessidade do mestre; mas isso não sucederá para vós aqui na Terra.
501 Por que a ação dos Espíritos sobre nossa existência é oculta e por que, quando nos protegem, não o fazem de um maneira ostensiva?
– Se contásseis com o seu apoio, não agiríeis por vós mesmos, e vosso Espírito não progrediria. Para progredir, vos é preciso experiência e, muitas vezes, é preciso adquiri-la à própria custa. É preciso que exerça suas forças; sem isso seria como uma criança a quem não se deixa caminhar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regida de maneira a não impedir o vosso livre-arbítrio, visto que, se não tiverdes responsabilidade, não avançareis no caminho que deve conduzir a Deus. O homem, não vendo quem o ampara, confia em suas próprias forças; seu guia, entretanto, vela sobre ele e, de tempos em tempos, o adverte do perigo.
502 O Espírito protetor que consegue conduzir seu protegido no bom caminho tem alguma recompensa?
– É um mérito que lhe é levado em conta para seu próprio adiantamento ou para sua felicidade. É feliz quando vê seus esforços coroados de sucesso; triunfa como um mestre triunfa com o sucesso de seu discípulo.
502 a Ele é responsável se não tiver êxito?
– Não, uma vez que fez o que dependia dele.
503 O Espírito protetor sofre quando vê seu protegido seguir o mau caminho, apesar de seus conselhos? Isso não é para ele uma causa de perturbação para sua felicidade?
– Ele sofre com esses erros e o lastima; mas essa aflição não tem as angústias da paternidade terrestre, porque sabe que há remédio para o mal, e o que não é feito hoje se fará amanhã.
504 Podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou anjo de guarda?
– Como quereis saber nomes que não existem para vós? Acreditais que haverá entre os Espíritos somente aqueles que conhecestes?
504 a Como, então, invocá-lo se não o conhecemos?
– Dai-lhe o nome que quiserdes, de um Espírito Superior pelo qual tendes simpatia ou veneração; vosso Espírito protetor atenderá ao chamado; todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem entre si.
505 Os Espíritos protetores que tomam nomes conhecidos são sempre, realmente, os das pessoas que usaram esses nomes?
– Não, mas dos Espíritos que lhes são simpáticos e que muitas vezes vêm a seu chamado. Fazeis questão de nomes, então, tomam um que inspire confiança. Quando não podeis realizar uma missão pessoalmente, costumais mandar alguém de confiança em vosso nome.
506 Quando estivermos na vida espírita reconheceremos nosso Espírito protetor?
– Sim. Muitas vezes já o conhecíeis antes da vossa encarnação.
507 Os Espíritos protetores pertencem todos à classe dos Espíritos Superiores? Pode-se encontrar entre os de classe intermediária? Um pai, por exemplo, pode tornar-se protetor de seu filho?
– Pode. Mas a proteção supõe um certo grau de elevação e um poder ou uma virtude concedidos por Deus. O pai que protege seu filho pode, por sua vez, ser assistido por um Espírito mais elevado.
508 Os Espíritos que deixaram a Terra em boas condições podem sempre proteger os que amam e que lhes sobrevivem?
– Seu poder é mais ou menos restrito; a posição em que se encontram não lhes dá toda a liberdade de ação.
509 Os homens no estado selvagem ou de inferioridade moral têm igualmente seus Espíritos protetores? E, nesse caso, esses Espíritos são de ordem tão elevada quanto a dos protetores dos homens mais avançados?
– Cada homem tem um Espírito que vela por ele, mas as missões são relativas ao seu objetivo. Não dareis a uma criança que começa a aprender a ler um professor de filosofia. O progresso do Espírito familiar segue de perto o do Espírito protegido. Tendo vós mesmos um Espírito Superior que vela por vós, podeis, também, tornar-vos protetor de um Espírito inferior, e os progressos que o ajudardes a fazer contribuirão para o vosso adiantamento. Deus não pede ao Espírito mais do que sua natureza comporta e o grau de elevação a que alcançou.
510 Quando o pai que vela por um filho reencarna, continua a velar por ele?
– É mais difícil que isso aconteça. Mas, de certa maneira, continua, ao pedir, num momento de desprendimento, a um Espírito simpático que o assista nessa missão. Aliás, os Espíritos apenas aceitam missões que podem cumprir até o fim.
O Espírito encarnado, principalmente nos mundos em que a existência é material, está muito submetido ao seu corpo para poder ser inteiramente devotado a um outro Espírito e poder assisti-lo pessoalmente. Eis por que aqueles que não são suficientemente elevados são assistidos por Espíritos Superiores, de tal modo que, se um falta por uma causa qualquer, é substituído por outro.
511 Além do Espírito protetor, haverá também um mau Espírito ligado a cada indivíduo com o fim de o expor ao mal e lhe fornecer ocasião de lutar entre o bem e o mal?
– Ligado não é bem a palavra. É bem verdade que os maus Espíritos procuram desviá-lo do bom caminho quando encontram ocasião; mas quando um deles se liga a um indivíduo, o faz por si mesmo, porque espera ser escutado. Desse modo, há a luta entre o bom e o mau e vence aquele por quem o homem se deixa influenciar.
512 Podemos ter muitos Espíritos protetores?
– Cada homem sempre tem Espíritos simpáticos, mais ou menos elevados, que lhe dedicam afeição e se interessam por ele, como igualmente tem os que o assistem no mal.
513 Os Espíritos que nos são simpáticos agem em cumprimento de uma missão?
– Algumas vezes, podem ter uma missão temporária, mas quase sempre são atraídos pela semelhança de pensamentos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal.
513 a Parece resultar disso que os Espíritos simpáticos podem ser bons ou maus?
– Sim, o homem encontra sempre Espíritos que simpatizam com ele, qualquer que seja o seu caráter.
514 Os Espíritos familiares são os mesmos Espíritos simpáticos ou protetores?
– Há muitas gradações na proteção e na simpatia; dai-lhes os nomes que quiserdes. O Espírito familiar é antes o amigo da casa.
 Das explicações acima e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem pode-se deduzir o seguinte:
O Espírito protetor, anjo de guarda ou bom gênio tem por missão seguir o homem na vida e ajudá-lo a progredir. É sempre de natureza superior à do protegido.
Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, para ajudá-las conforme seu poder, muitas vezes limitado. São bons, mas, às vezes, pouco avançados e mesmo um pouco levianos; ocupam-se voluntariamente dos detalhes da vida íntima e somente agem por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.
Os Espíritos simpáticos se ligam a nós por afeições particulares e certa semelhança de gostos e de sentimentos tanto para o bem quanto para o mal. A duração de suas relações é quase sempre subordinada às circunstâncias.
O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso que se liga ao homem para desviá-lo do bem, mas age por sua própria iniciativa e não no cumprimento de uma missão. A constância da sua ação está em razão do acesso mais ou menos fácil que encontra. O homem tem a liberdade para escutar-lhe a voz ou rejeitá-la.
515 O que pensar dessas pessoas que parecem se ligar a certos indivíduos para os levar fatalmente à perdição ou para guiá-los no bom caminho?
– Algumas pessoas exercem, de fato, sobre outras uma espécie de fascinação que parece irresistível. Quando isso acontece para o mal, são maus Espíritos que se servem de outros igualmente maus para melhor poderem subjugar. A Providência permite que isso ocorra para vos por à prova.
516 Nosso bom e mau gênio poderiam encarnar para nos acompanhar na vida de uma maneira mais direta?
– Isso pode acontecer. Porém, freqüentemente encarregam dessa missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.
517 Há Espíritos que se ligam a toda uma família para protegê-la?
– Alguns Espíritos se ligam aos membros de uma família em conjunto e que são unidos pela afeição, mas não acrediteis em Espíritos protetores do orgulho das raças.
518 Os Espíritos que são atraídos para os indivíduos pela sua simpatia também o são para as reuniões de indivíduos em razão de causas particulares?
– Os Espíritos vão de preferência onde estão seus semelhantes; lá estão mais à vontade e mais certos de serem escutados. O homem atrai os Espíritos em razão de suas tendências, quer esteja só ou formando uma coletividade, como uma sociedade, uma cidade ou um povo. Há, portanto, sociedades, cidades e povos que são assistidos por Espíritos mais ou menos elevados, segundo o caráter e as paixões que os dominam. Os Espíritos imperfeitos se afastam daqueles que os repelem; resulta disso que o aperfeiçoamento moral de todas as coletividades, como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e atrair os bons, que estimulam e mantêm o sentimento do bem nas massas, como outros podem estimular as paixões grosseiras.
519 As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, têm seus Espíritos protetores especiais?
– Sim, porque são de individualidades coletivas que marcham com um objetivo comum e têm necessidade de uma direção superior.
520 Os Espíritos protetores das massas são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos?
– Tudo é relativo ao grau de adiantamento tanto das massas como dos indivíduos.
521 Certos Espíritos podem ajudar no progresso das artes ao proteger aqueles que se ocupam delas?
– Há Espíritos protetores especiais que assistem aos que os invocam quando os julgam dignos. Porém, não deveis acreditar que consigam fazer com que os indivíduos sejam aquilo que não são. Eles não fazem os cegos enxergarem, nem os surdos ouvirem.
 Os antigos fizeram desses Espíritos divindades especiais. As Musas eram a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como designavam sob o nome de Lares e Penates2 os Espíritos protetores da família. Modernamente, também, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os continentes têm seus patronos protetores, Espíritos Superiores, mas sob outros nomes.
Cada homem tem Espíritos que lhe são simpáticos, e resulta disso que, em todas as coletividades, a generalidade dos Espíritos simpáticos está em relação com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos de costumes e procedimentos estranhos são atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e dos pensamentos; em uma palavra, que essas multidões de pessoas, assim como os indivíduos, são mais ou menos bem assistidos e influenciados conforme a natureza dos pensamentos dos que os compõem.
Entre os povos, as causas de atração dos Espíritos são os costumes, os hábitos, o caráter dominante e principalmente as leis, porque o caráter de uma nação se reflete em suas leis. Os homens que fazem reinar a justiça entre si combatem a influência dos maus Espíritos. Em toda parte onde as leis consagram injustiças, contrárias à humanidade, os bons Espíritos estão em minoria e a massa dos maus se reúne e mantém a nação sob o domínio das suas idéias e paralisa as boas influências parciais que ficam perdidas na multidão, como uma espiga isolada no meio dos espinheiros. Ao estudar os costumes dos povos ou de qualquer reunião de homens, é fácil, portanto, fazer uma idéia da população oculta que se infiltra em seus pensamentos e em suas ações.

Pressentimentos

522 O pressentimento é sempre um aviso do Espírito protetor?
– É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Está também na intuição da escolha que se fez; é a voz do instinto. O Espírito, antes de encarnar, tem conhecimento das principais fases de sua existência, do gênero de provas por que terá de passar; quando estas têm um caráter marcante, conserva uma espécie de impressão em seu íntimo e essa impressão é a voz do instinto, que se revela quando o momento se aproxima como um pressentimento.
523 Os pressentimentos e a voz do instinto têm sempre alguma coisa de vago. Que devemos fazer quando ficamos na incerteza?
– Quando vos achardes na incerteza, na dúvida, invocai vosso Espírito protetor ou orai ao senhor de todos, a Deus, que enviará um de seus mensageiros, um de nós.
524 Os conselhos de nossos Espíritos protetores têm por objetivo unicamente a nossa conduta moral ou também o modo de proceder nas coisas da vida particular?
– Objetivam a tudo. Eles procuram vos fazer viver o melhor possível; porém, muitas vezes, fechais os ouvidos aos seus bons conselhos e sois infelizes por vossas faltas.
 Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos pela voz da consciência que fazem falar em nós; mas como nem sempre damos a isso a importância necessária, eles nos dão outros de maneira mais direta, servindo-se das pessoas que nos rodeiam. Que cada um examine as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos que nem sempre aceitou e que teriam poupado muitos desgostos se os houvesse escutado.

Influência dos Espíritos sobre os acontecimentos da vida

525 Os Espíritos exercem alguma influência sobre os acontecimentos da vida?
– Certamente, uma vez que vos aconselham.
525 a Eles exercem essa influência de outro modo, além dos pensamentos que sugerem, ou seja, têm uma ação direta sobre a realização das coisas?
– Sim, mas nunca agem fora das leis da natureza.
 Imaginamos erroneamente que a ação dos Espíritos deve se manifestar somente por fenômenos extraordinários. Desejaríamos que nos viessem ajudar por milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Mas não é assim; e porque sua intervenção nos é oculta, o que fazemos, embora com a sua cooperação, nos parece muito natural. Assim, por exemplo, provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; inspirarão a alguém o pensamento de passar por determinado lugar; chamarão sua atenção sobre um certo ponto, se isso deve causar o resultado que tenham em vista obter, de tal modo que o homem, acreditando seguir somente um impulso próprio, conserva sempre seu livre-arbítrio.
526 Os Espíritos, tendo ação sobre a matéria, podem provocar alguns efeitos para realizar um acontecimento? Por exemplo, um homem deve morrer: ele sobe uma escada de madeira, a escada se quebra e o homem morre; são os Espíritos que fazem quebrar a escada para realizar o destino desse homem?
– É certo que os Espíritos têm ação sobre a matéria, mas para a realização das leis da natureza e não para as anular ao fazer surgir num certo momento um acontecimento inesperado e contrário a essas leis. No exemplo apresentado, a escada se quebra porque estava gasta e fraca ou não era suficientemente forte para suportar o peso do homem. Se por expiação esse homem tivesse que morrer assim, os Espíritos lhe inspirariam o pensamento de subir nessa escada, que, por ser velha, se quebraria com seu peso, e sua morte teria lugar por efeito natural, sem que fosse necessário fazer um milagre, isto é, anulando uma lei natural de fazer quebrar uma escada boa e forte.
527 Tomemos um outro exemplo em que o estado natural da matéria não seja importante. Um homem deve morrer fulminado por um raio; ele se refugia sob uma árvore, o raio brilha, explode e o mata. Os Espíritos puderam provocar o raio e dirigi-lo até ele?
– É ainda a mesma coisa. O raio atingiu a árvore nesse momento porque estava nas leis da natureza que fosse assim; não foi dirigido para a árvore porque o homem estava debaixo dela. Ao homem, sim, foi inspirado o pensamento de se refugiar debaixo da árvore em que o raio deveria cair, porém a árvore seria atingida, estivesse o homem debaixo dela ou não.
528 Um homem mal-intencionado dispara uma arma contra outro, a bala passa de raspão e não o atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?
– Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benevolente lhe inspirará o pensamento de se desviar ou poderá dificultar a pontaria do seu inimigo de modo a fazê-lo enxergar mal. Mas a bala, uma vez disparada, segue a linha que deve percorrer.
529 O que se deve pensar das balas encantadas de algumas lendas que atingem fatalmente um alvo?
– Pura imaginação; o homem adora o maravilhoso e não se contenta com a maravilha da natureza.
529 a Os Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ser contrariados por Espíritos que queiram o contrário?
– O que Deus quer deve acontecer; se há um atraso ou um impedimento, é por Sua vontade.
530 Os Espíritos levianos e zombeteiros podem criar pequenos embaraços que atrapalham nossos projetos e confundir nossas previsões? Em uma palavra, são autores das chamadas pequenas misérias da vida humana?
– Eles se satisfazem em causar aborrecimentos que são provas para exercitar vossa paciência, mas se cansam quando não conseguem nada. Entretanto, não seria justo nem exato acusá-los de todas as vossas decepções, de que sois os primeiros responsáveis pela vossa leviandade. Acreditai, portanto, que, se a vossa baixela de louça se quebra, é antes pela vossa falta de jeito do que por culpa dos Espíritos.
530 a Os Espíritos que provocam essas inquietações agem por conseqüência de uma animosidade pessoal ou atacam o primeiro que chega, sem motivo determinado, unicamente por malícia?
– Ambos os casos. Algumas vezes, são inimigos que fazeis durante essa vida ou em uma outra, e que vos perseguem; outras vezes, não há motivos.
531 A maldade dos que nos fizeram mal na Terra se extingue com a morte?
– Muitas vezes sim, porque reconhecem sua injustiça e o mal que fizeram. Mas freqüentemente continuam a vos perseguir com persistência, se estiver nos desígnios da Providência, para continuar a vos provar.
531 a Pode-se pôr um fim a isso? Como?
– Sim, se orar por eles e retribuir o mal com o bem, acabarão por compreender seus erros. Além disso, se vos colocardes acima de suas maquinações, eles cessarão, vendo que nada ganham com isso.
 A experiência demonstra que alguns Espíritos prosseguem sua vingança de uma existência a outra, e que assim expiam, cedo ou tarde, os males que se pode ter feito a alguém.
532 Os Espíritos têm o poder de afastar os males sobre algumas pessoas e de atrair para elas a prosperidade?
– Não completamente. Há males que estão nos desígnios da Providência, mas amenizam vossas dores ao vos dar a paciência e a resignação.
Deveis prestar atenção porque depende muitas vezes de vós afastar esses males ou pelo menos atenuá-los. Deus vos deu a inteligência para vos servirdes dela e é principalmente por meio dela que os Espíritos vêm vos ajudar ao sugerir pensamentos benéficos; mas apenas assistem àqueles que sabem ajudar-se a si mesmos. É o sentido destas palavras: “Procurai e encontrareis, batei e se vos abrirá”.
Sabei ainda: o que parece um mal nem sempre é. Freqüentemente, do mal que vos aflige sairá um bem muito maior. É o que não compreendereis, enquanto pensardes somente no momento presente ou em vós mesmos.
533 Os Espíritos podem fazer obter a riqueza, se para isso são solicitados?
– Algumas vezes como prova, mas, freqüentemente, recusam, como se recusa a uma criança a satisfação de um pedido absurdo.
533 a Quando atendem, são os bons ou os maus Espíritos que concedem esses favores?
– Ambos; isso depende da intenção. Na maioria das vezes são Espíritos que querem vos conduzir ao mal e que encontram um meio fácil de o conseguir nos prazeres que a riqueza proporciona.
534 Quando sentimos obstáculos fatais em oposição aos nossos projetos, seria pela influência de algum Espírito?
– Algumas vezes, são os Espíritos. Outras, na maioria delas, é que escolhestes mal a elaboração e execução do projeto. A posição e o caráter influem muito. Se insistis num caminho que não é o vosso, não é devido aos Espíritos: é que sois vosso próprio mau gênio.
535 Quando alguma coisa feliz nos acontece, é a nosso Espírito protetor que devemos agradecer?
– Agradecei a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos, que são seus agentes.
535 a O que acontece quando não agradecemos?
– O que acontece aos ingratos.
535 b Entretanto, há pessoas que não oram nem agradecem e para as quais tudo dá certo!
– Sim, mas é preciso ver o final. Pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, já que, quanto mais tiverem recebido, mais contas terão que prestar.

Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da natureza

536 Os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são considerados como uma perturbação dos elementos, são de causas imprevistas ou, ao contrário, são providenciais?
– Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus.
536 a Esses fenômenos sempre têm o homem como objetivo?
– Algumas vezes têm uma razão de ser direta para o homem. Entretanto, na maioria dos casos, têm por objetivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da natureza.
536 b Concebemos perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primária nisso como em todas as coisas, mas, como sabemos que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria e que são os agentes da vontade de Deus, perguntamos: alguns dentre eles não exercem uma influência sobre os elementos para os agitar, acalmar ou dirigir?
– Mas é evidente que exercem e não pode ser de outro modo. Deus não exerce ação direta sobre a matéria; ele tem agentes devotados em todos os graus da escala dos mundos.
537 A mitologia dos antigos é inteiramente fundada sobre as idéias espíritas, com a diferença de que consideravam os Espíritos divindades. Representavam esses deuses ou Espíritos com atribuições especiais: assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir a vegetação, etc; essa crença é totalmente destituída de fundamento?
– Ela é tão pouco destituída de fundamento que ainda está muito aquém da verdade.
537 a Pela mesma razão, poderia haver Espíritos vivendo no interior da Terra e dirigindo os fenômenos geológicos?
– Evidentemente esses Espíritos não habitam exatamente o interior da Terra, mas presidem e dirigem os fenômenos de acordo com suas atribuições. Um dia, tereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.
538 Os Espíritos que dirigem os fenômenos da natureza formam uma categoria especial no mundo espírita? São seres à parte ou Espíritos que estiveram encarnados como nós?
– Que estiveram ou que estarão.
538 a Esses Espíritos pertencem às ordens superiores ou inferiores da hierarquia espírita?
– Isso é conforme seja mais ou menos material ou inteligente o papel que desempenham. Uns comandam, outros executam. Aqueles que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem inferior, entre os Espíritos como entre os homens.
539 Na produção de alguns fenômenos, as tempestades por exemplo, é um Espírito que age, ou se reúnem em massa?
– Em massas inumeráveis.
540 Os Espíritos que exercem ação sobre os fenômenos da natureza agem com conhecimento de causa, pelo seu livre-arbítrio, ou por um impulso instintivo ou irrefletido?
– Uns sim, outros não. Façamos uma comparação: imaginai essas imensidades de animais que pouco a pouco fazem sair do mar as ilhas e os arquipélagos, acreditais que não há nisso um objetivo providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária para a harmonia geral? Esses são apenas animais da última ordem que realizam essas coisas para proverem suas necessidades e sem desconfiarem que são os instrumentos de Deus. Pois bem! Do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto; enquanto ensaiam para a vida e antes de ter plena consciência de seus atos e seu livre-arbítrio, agem sobre alguns fenômenos dos quais são agentes inconscientes. Executam primeiro; mais tarde, quando sua inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material; mais tarde ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim que tudo serve, tudo se encaixa na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que começou pelo átomo; admirável lei de harmonia da qual vosso Espírito limitado ainda não pode entender o conjunto.

                                                       

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