Nesta mesma noite, depois que Uitonius se fora -na verdade não sei se realmente eu estava só- comecei a pensar no relacionamento que mantivemos por séculos. Me esforçava por criar uma imagem mental dele, inutilmente Este era um fato que me fazia exasperar
Foi então que acendi um cigarro e me entretinha olhando a fumaça criar formas quando comecei perceber me invadido por figuras como em um filme. Eram homens em batalha campal. Pareciam animais em franco combate. Um deles, grandalhão, barba avermelhada, com uma enorme espada, feria, degolava entre fortes gargalhadas.
Uma cena, logo a seguir eu via o mesmo homem, embora diferente, com as mesmas gargalhadas, apunhalar um padre que dormia, meio à lençóis de seda. O mesmo homem em cena posterior, acompanhado de uns negros, em tocaia, investiam sobre uma caravana de fina aparência e, com instintos de selvageria, matar e decapitar a todos meio à gargalhadas características.
Vi, também, um jovem de cabelos louros chorando ao se despidir de alguém que ficara trancafiado em uma masmorra.
Vi, aquele homem que tanto gargalhava na prática de seus desvarios,andando, só, em noite escura por ruelas. Chorando, desta vez.
Vi, noites e dias passarem. Reconheci aquele ser na figura de um surdo-mudo, de um cego e de um paralítico. Me esforçava, enquanto as cenas transcorriam, em identificá-lo. Sua imagem me lembrava alguém que não conseguia associar .Vi, enfim, aquele homem ser resgatado por um casal que o tiraram da porta de uma igreja, onde parecia estar esmolando; foi conduzido à uma casa e lá, o limparam,lavaram-no e lhe deram comida e leito.Vi aquele homem, sem aquela barba, cunho duma personalidade cruel, sentado à beira de um lago e de olhos para o céu, parecia orar ou esperar por alguém.
Eu transpirava ofegante. Parecia estar voltando de um sonho.
Escrevi tudo que vira por medo de esquecer-me. Estava tonto e tinha muita sede. Não quiz pensar àquela hora. Só pensava em dormir.
Dormir profundamente. Amanhã pensaria!
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