Uitonius me encontrou impaciente. Ele sabia que meus pensamentos fervilhavam. As visões, da noite anterior mexeram muito comigo. Eu já havia entendido o recado, se é que posso considerar que tenha sido um recado; uma revelação talvez?
Ele não tocou no assunto e eu também me tranquei.
Falamos sobre o perispírito; um assunto que eu já havia esmiuçado.
Foi então que arrisquei perguntar: -Me diga, como será feito meu transporte até a nave?
-Não se preocupe, dias antes te esclareceremos de tudo. Não é oportuno, neste momento. Entende?
-Embora eu dissesse que sim, é claro que não concordava. E mais, estava ficando irritado e ansioso
E Uitonius, é claro que sabia, afinal ele sabia tudo.
Então, num átimo, ousei perguntar:
-E aquelas visões que tive; você continuava por aqui, não?
-Sim, eu as estimulei.
-Você me fez vê-las?
-Apenas estimulei as profundezas do teu inconsciente.
-Em outras palavras, você me induziu que trouxesse ao presente, ou consciente, um pretérito semi sepultado?
-Nada é sepultado; sempre há a hora certa de digeri-lo.
-Digeri-los?
-Sim, encará-los como passos do processo evolucional; na caminhada evolutiva, e, nela existem as fases de aperfeiçoamento. O grande salto da barbárie à luz. Todos os Espíritos exprimentam ou experimentaram em determinado momento, experiências semelhantes. Não há evolução em linha reta.
-E por que aquelas cenas, eu precisava vê-las?
-Elas te faziam mal; até que as enfrentasse e perdoasse a si próprio.
Eu me sentia em um divã, frente à um psicanalista.
-E o problema acaba com isso?
-Não há problema, senão, a culpa que acompanha e aponta o dedo, o próprio indicador para nós mesmos.
-E a reparação, não é necessária?
-Deus nos dá o livre arbítrio e tu já te auto-flagelastes muito. É hora de renovação. Hora do bem ... da Luz!
Por incrível que possa parecer, naquele instante, senti um profundo amor por todos aqueles que maltratara; tive vontade de buscar, um a um e pedir que me perdoassem.
Uitonius leu-me os pensamentos e avalizando meus sentimentos concluiu:- Tu já o vens fazendo; saiba que todos já te perdoaram. Outra coisa não fizestes nestas últimas vidas.
Já não estava irritado nem impaciente; mas calmo e leve.
Sentia-me um novo homem. Liberto, talvez!!!
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