As recordações se multiplicavam.
Afinal, foram uns trinta dias de atividades ininterruptas na Grande Nave Segurança.
Eu não me cansava, não tinha sono; posto que, estava com meu corpo perispiritual, somente.
Procurava por Uitonius e fui encontrá-lo na praça de alimentação (uma das tantas); sentado, saboreando algumas frutas que me pareceram romãs e figos; um legume tipo beterraba e acompanhando um copo (tipo dos nossos descartáveis) de suco amarelado.
Cada um se servia dos alimentos que queria ao estilo self service.
Avistando-me, sorriu e apontou um assento ao seu lado. Sentei-me e sorri, sem saber o que falar.
Ele se antecipou: - Desculpe-me Gui por tê-lo abandonado por algumas horas (das minhas horas, é claro). Acabei de acordar, e após uma rápida higiene, vim fazer uma leve refeição, pois, dentro de instantes tenho uma importante reunião. Tem alguma coisa que você gostaria de se inteirar ou conhecer?
-Antes de lhe responder, perguntei-lhe: -Vocês dormem?
Ele deu um extenso sorriso. Deu um gole em seu suco, limpou a boca com um guardanapo colorido, tipo destes de festas infantis, feito de papel e começou a falar. Uitonius quando começava a falar, o difícil era parar. Ele era detalhista e não costumava falar por entre linhas; quando algum assunto não podia ser comentado, era franco e dizia que "depois ou algum dia" conversaríamos sobre aquilo.
-Gui, nós aqui, no espaço, observamos o sol de um lado e se nos virarmos, do outro também; não temos noite e dia e não dependemos de fuso horário. Considere que temos um fuso orgânico adaptado às nossas necessidades. Nosso corpo é pouquíssimo requisitado para tarefas, posto que nosso trabalho é quase que totalmente mental e, isso não desgasta a matéria sutilizada que nos abriga, diferente de vocês da Terra que, ainda, utilizam corpos grosseiros e pesados; sujeitos aos desgastes fluídicos e reclamam alimentações pesadas e sono repositor do equilíbrio celular.
-Três hora de refazimento em cada 36 de vigília são suficientes para a manutenção do nosso organismo- referia-se ao nosso conceito temporal-.
-Uitonius, falei, então, gostaria de voltar ao hangar para apreciar aqueles modelos de naves que lá estão. Fiquei maravilhado pelo enorme número de modelos, formatos diversos, cores e tonalidades que deixariam nossos maiores pintores de boca aberta.
Rindo, Uitonius foi preciso: - Por que não?
-Providenciaremos alguém que te acompanhe e possa dar orientações à detalhes que te chamem atenção, e, nisso, fechou os olhos por uns 10 segundos e ao abri-los me disse que Leto, dentro de instantes viria ao nosso encontro.
-Leto é encarregado -um deles- das manutenções das pequenas naves, tipo daquelas que vistes em nosso hangar em que desembarcastes.
Em poucos instantes vimos um jovem aproximar-se em nossa direção; era alto, moreno escuro, cabelos lisos e presos tal qual "rabo de cavalo". Era um saturnino. Eles tinham a fama da "simpatia".
Chegou sorrindo e após as apresentações foi ao assunto:- Meu querido Diretor, estou às ordens do nosso novo amigo, Gui para o que for deliberado.
-Obrigado, querido Leto; leva o Gui ao hangar e deixa que vistorie nossas naves para que satisfaça a vontade em conhecê-las. Estás liberado para te aprofundares em seus questionamentos.
Dito isso, despedi-me de Uitonius e segui com Leto rumo ao hangar. Servimo-nos daquele elevador transparente e após longo corredor, abriu-se a porta à um toque de luz de um aparelhinho que Leto carregava. E, ali, novamente me vi naquele local maravilhoso.
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