Vosso conceito de um espaço e de um tempo absolutos, universais, sempre iguais a si mesmos, corresponde a uma
orientação puramente metafísica, que inconscientemente matemáticos e físicos introduziram em suas equações. Esse ponto de
partida, totalmente arbitrário, vos levou a conclusões erradas; colocou-vos diante de fenômenos que se transformam em enigmas,
perante contradições sem saída e conflitos insanáveis; de todos os lados, cerca-vos o mistério. Na realidade, somente encontrais,
como vos disse, um tempo e um espaço relativos, cujo valor não ultrapassa o sistema a eles relativo. Mas há mais. Eles são apenasmedidas de transição, em contínua transformação evolutiva
Ao lado do princípio da trindade existe outro, que lembramos ao ilustrar o conceito monístico do universo, para estudar a
gênese e a constituição das formas dinâmicas. É dado pela “lei da dualidade”. Esta considera não o reordenar-se da unidade em
sistemas coletivos superiores, mas sua íntima composição. Acima da unidade está o 3, em seu interior está o 2. Isto no sentido de
que a individuação não é jamais uma unidade simples, mas sempre um dualismo que, em seu aspecto estático, divide a unidade emduas partes, do ser e do não-ser, em duas metades inversas e complementares, contrárias e no entanto recíprocas, antagônicas mas
necessárias. Em seu aspecto dinâmico é um contraste entre dois impulsos opostos, que se movem e se balanceiam em umequilíbrio instável, que continuamente se desloca e se renova. É um ciclo feito de semiciclos, que se perseguem e se completam. É
uma pulsação íntima, segundo a qual a evolução avança. Este dualismo é o binário, guia e canaliza o movimento, sobre o qual
avança a grande marcha do transformismo evolutivo; tanto que, sob esse aspecto, concebe-se uma cosmogonia dualista. Omonismo é dualista em seu íntimo devenir. Esse é seu ritmo interior; essas as duas margens da estrada, ao longo da qual avança o
fenômeno, não retilíneo mas sempre oscilando sobre si mesmo. Dupla é a respiração de todo fenômeno: fase de inspiração e de
expiração; dupla sua pulsação: centrífuga e centrípeta; duplo seu movimento no avançar e retroceder. A evolução é realizada por
esta íntima oscilação e, por força dessa oscilação, progride. O devenir é conseguido por esse íntimo contraste. O movimento
ascensional é a resultante desse jogo de impulsos e contra-impulsos entre duas margens invioláveis, de onde o movimento voltasempre sobre si mesmo. O fenômeno caminha pelo escorar-se mutuamente dessas duas forças-metades que o determinam. O
movimento genético da evolução é constituído por essa íntima vibração, que transmuda o ser em outra forma.Essa lei de dualidade a encontrais em toda parte. Cada unidade é dupla e se move entre dois extremos, que são seus dois
pólos. Os sinais + e - estão em toda parte e o binômio reconstrói a unidade, que sempre vos aparece como um par: dia-noite,trabalho-repouso, branco-negro, alto-baixo, esquerdo-direito, frente-atrás, direito-avesso, externo-interno, ativo-passivo, belo-feio,
bom-mau, grande-pequeno, Norte-Sul, macho-fêmea, ação-reação, atração-repulsão, condensação-rarefação, criação-destruição,
causa-efeito, liberdade-escravidão, riqueza-pobreza, saúde-doença, amor-ódio, paz-guerra, conhecimento-ignorância, alegria-dor,
paraíso-inferno, bem-mal, luz-trevas, verdade-erro, análise-síntese, espírito-matéria, vida-morte, absoluto-relativo, princípio-fim.
Cada adjetivo, cada coisa possui seu contrário; cada modo de ser oscila entre duas qualidades opostas. Cada unidade é uma
balança entre esses dois extremos e equilibra-se neste seu íntimo princípio de contradição. Os extremos tocam-se e se reúnem. As
diferentes condições em que o princípio do dualismo se move, produziram todas as formas e combinações possíveis, mas elas
equivalem-se como princípio único. A unidade é um par. O universo é monismo em seu conjunto, dualismo no particular: uma
dualidade que contém o princípio de contradição e de fusão ao mesmo tempo; que divide e reúne e, a cada forma do ser, dá uma
estrutura simétrica (princípio de simetria); dá ao desenvolvimento de cada fenômeno uma perfeita correspondência de forças
equilibradas. Também o dualismo corresponde a um princípio de “equilíbrio”, é o momento do princípio de “ordem”, fundamental
na Lei. O que define a unidade em sua íntima estrutura é sua construção interior; o que garante a estabilidade do devenir
fenomênico e torna inviolável sua trajetória, não é apenas o princípio de inércia, mas esse desenvolvimento de forças antitéticas
que, no entanto, atraem-se e mantém aquele devenir unido e compacto. É um ir-e-vir, mas em campo fechado, cujos limites não se
pode ultrapassar. Se não fora o movimento equilibrado por esse contínuo retorno sobre si mesmo, o universo se teria deslocado há
muito, todo ele numa só direção e teria perdido seu equilíbrio. Ao invés, a evolução é uma íntima auto-elaboração, um
amadurecimento, devido a um movimento que, regressando sobre seus passos e fechando-se sempre sobre si mesmo, como uma
respiração, muda a forma e externamente permanece imóvel, além dos limites dela; a cada movimento um ritmo que muda o
fenômeno, sem poder sair dele, invadindo e alterando os ritmos de outros fenômenos. Este princípio de antítese e de simetria, que
sem cessar divide e reúne, reúne e divide, podemos chamá-lo monismo dualista e dualismo monista. O positivo vai + e volta -; o
negativo vai - e volta +, em constante inversão de sinal e de valor. Combinai e multiplicai este princípio com o das unidades
coletivas e vereis como o universo está todo unido num indissolúvel abraço
Fontes bibliográficas: Pietrus// Palestra em A Segurança
-P. Ubaldi// Cornélio/ Vachamor/
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